Ainda vivemos de acordo com as regras da 1ª. Revolução Industrial e das Teorias da Sociologia e Administração, que marcaram a 2ª. Revolução Industrial, há pouco mais de um século.

Mas, embora a gente ainda sinta os efeitos de movimentos que há tanto tempo moldaram a forma como vivemos e trabalhamos, a relação das pessoas com o trabalho vem mudando de forma gradativa e considerável. Expressões como “propósito”, “sentido do trabalho”, “realização”, “engajamento”, “pertencimento”, entre outras, estão se tornando cada vez mais populares no vocabulário do ser humano nas empresas. Essas expressões se tornam cada vez mais perceptíveis nas pesquisas de clima organizacional, realizadas nas empresas.

O clima organizacional é importante para se compreender o modo como o trabalho afeta o comportamento e as atitudes das pessoas neste ambiente, sua qualidade de vida e o desempenho das pessoas na organização1.

Expressar como se sente no trabalho é muito importante para o sentimento de integração das pessoas para com a organização. Pois, leva o ser humano a se sentir conectado com as atividades que desempenha e com as demais pessoas envolvidas no trabalho, gerando satisfação e realização.

Isso faz com que as organizações precisem de ferramentas e metodologias de gestão, que tenham como objetivo gerar nas pessoas a percepção de que o local onde trabalham é, também, um local para a sua realização profissional. Assim, as pessoas tendem a permanecer mais tempo nessas organizações, o que é fundamental para atender, inclusive, os pressupostos da eficiência produtiva consagrados pelas Teorias da Administração, propostas por Taylor e Fayol, há mais de cem anos. 

Vale salientar que não se trata de um paradoxo, pois todas as ações que objetivarem a atração e a retenção de talentos na organização têm como objetivo a criação de uma conexão destas pessoas com os propósitos da organização.

Essa conexão vai gerar estabilidade (redução nas taxas de turnover), que é fundamental para que as empresas empreguem com sucesso os ideais da divisão de tarefas e especialização das atividades. Em última instância, todo esse conjunto levará, inevitavelmente, ao aumento ou preservação do resultado da organização – item fundamental para a sua perenidade e para que a empresa continue cumprindo suas funções sociais.

Uma das formas de fazer com que essa conexão do colaborador com a empresa ocorra é por meio da espiritualidade.

A espiritualidade é um fenômeno presente nas organizações, que faz com que cada pessoa descubra que a sua sobrevivência não depende somente de alimento, mas também de coisas intangíveis como o amor, a aceitação, a paz de espírito, sensação de realização e propósito, entre outros.

Esse fato não é novo, visto que Abraham Maslow, ao propor sua teoria sobre a Hierarquia das Necessidades, revelava ao mundo que as questões físicas e materiais representam somente uma pequena parte – uma parcela inicial – do que o ser humano precisa e aspira. As questões materiais são essenciais para a sobrevivência, mas, ao longo da vida, as pessoas tendem a buscar por coisas que superam os aspectos físicos e materiais para alcançarem questões como o status, a realização pessoal ou senso de propósito. 

Embora tenham sido cunhados dentro da Teoria da Hierarquia das Necessidades, é possível fazer uma relação direta entre esses pontos “intangíveis” da teoria de Maslow com a espiritualidade organizacional. Pois, a espiritualidade é um processo contínuo de evolução e autoconhecimento, que culmina na realização pessoal e resulta em uma forma diferente de pensar e agir no mundo2. A espiritualidade pode fornecer um propósito, um significado, um sentido para a vida3.

No próximo texto, falaremos um pouco mais sobre a forma como a espiritualidade se relaciona com a vida organizacional.

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1MARTINS, Maria do Carmo Fernandes. SIQUEIRA, Mirlene Maria Matias. Medidas do comportamento organizacional: ferramentas de diagnóstico e de gestão. Porto Alegre: Artmed, 2008.

2 PEDRO, V. D. A espiritualidade nos voluntários. 2015. 66f. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde), Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Escola de Psicologia e Ciência da Vida, Lisboa. 2015.

3VASCONCELOS, F. D. O desenvolvimento espiritual integrado ao planejamento estratégico pessoal. 2010. 133f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção). Universidade Federal de Santa Maria, Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia da Produção. Santa Maria. 2010. Disponível: http://livros01.livrosgratis.com.br/cp139613.pdf. Acesso em: 22. Mai. 2017.

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