Estamos às vésperas de mais uma eleição, o que faz com que a nossa atenção se volte para analisar os candidatos, para definirmos em quem iremos votar. Bom, pelo menos é assim que deveria ser…
O problema é que boa parte das pessoas pula essa etapa da análise dos candidatos e parte direto para defender, de forma acalorada e apaixonada, o seu candidato, partido, etc. Faz parte do jogo. Mas, é nessas horas que a gente vê que qualquer lugar vira palanque para que muitos eleitores façam a sua propaganda.
Na realidade, muitas vezes o palanque não é utilizado para fazer propaganda, mas sim para atacar e acusar os que não pensam como a gente. Faz parte do jogo também, infelizmente.
A questão é que muitas pessoas não reconhecem os limites deste palanque, fazendo com que se debata, ou melhor, se discuta política em todo lugar e em qualquer momento. Não vou nem falar do faroeste caboclo que são as redes sociais, verdadeira terra de ninguém quando o assunto é expressar uma opinião.
Talvez a gente adote esse comportamento porque somos inspirados pelos debates improdutivos que a televisão insiste em organizar. Mas, o fato é que nem todo lugar é lugar e nem toda hora é hora para discutir política. Principalmente nas empresas. Só que a emoção ou a paixão por esse ou aquele candidato acaba falando mais alto, fazendo com que se perca a medida do bom senso e acabe discutindo política no ambiente organizacional.
Quando eu digo que empresa não é lugar para discutir política, a resposta que eu mais recebo, quase que imediatamente, é a seguinte: “- Mas se a gente fala de futebol com os colegas de trabalho, porque não podemos falar de política?”.
Confesso que o argumento faz sentido, mas tem uma diferença fundamental entre futebol e política: no esporte, toda a semana o jogo muda. Os resultados de uma semana serão diferentes na semana seguinte e vencedor desta semana poderá não ser o vencedor da semana seguinte. E assim, neste equilíbrio dinâmico, todos ficam felizes e o placar dos jogos do fim de semana acaba virando motivo de brincadeira entre a maioria dos fãs do esporte.
Mas, com a política é diferente. Não tem eleição toda semana. O que decidimos nas urnas irá valer por quatro anos. E, verdade seja dita, o que decidirmos nas urnas irá, efetivamente, impactar nas nossas vidas. As decisões políticas podem mudar o rumo das nossas vidas. O placar da rodada, nem tanto.
Por isso que eu digo que não dá para comparar a discussão do futebol com a discussão da política. É um assunto delicado e um tanto controverso, pois passamos boa parte do nosso dia no ambiente de trabalho e torna-se natural que as pessoas conversem sobre assuntos que não dizem respeito à esfera do trabalho.
E também tem outro ponto que considero fundamental: não temos maturidade para falar sobre política. Essa maturidade falta porque não acompanhamos os políticos durante seus mandatos, não fizemos as cobranças que devemos fazer e não estudamos política da forma como deveríamos, para que tenhamos condições de falar sobre o assunto.
Isso faz com que esse assunto seja tomado pelo lado emocional, pela cegueira das paixões, sem argumentos racionais e inteligentes para conversar. E daí a conversa sobre política vira discussão e, nas empresas, discussões sobre assuntos alheios à vida profissional e que pouco contribuem para o crescimento dos profissionais e da própria empresa devem ser evitados, sob pena de comprometermos o clima organizacional.