Transcrição do episódio "61 – Zona de conforto – Modo de Usar"
Olá, pessoal! Meu nome é Fabiano Goldacker. Sou Coach Executivo da Ponte ao Futuro.
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ZONA DE CONFORTO: MODO DE USAR
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Muita gente gosta de refletir sobre as coisas negativas que podem acontecer em uma determinada situação. Numa tomada de decisão muitas vezes é sedutor pensar somente nas probabilidades de erro na decisão a ser tomada, ao invés de pensar nas chances de acerto. É habitual deixar que cada ideia que a gente tem seja acompanhada da pergunta: “- E se não der certo?”. Em muitos casos, ocorre que por mais provável que seja o sucesso ficamos com um pé atrás por conta dos riscos envolvidos. Só acreditamos no sucesso quando ele se materializa na nossa frente.
Esse comportamento é bem normal, pois é sinal da proteção que o ser humano impõe inconscientemente sobre si mesmo diante de todos os riscos que podem ameaçar a sua integridade. Só que esse padrão de comportamento torna-se nocivo quando o medo de errar paralisa as iniciativas, condenando a pessoa a permanecer na zona de conforto.
Isso acontece porque as pessoas têm medo de errar. Mas somente erra quem tenta. Somente erra quem faz. Na inércia nada acontece. Na zona de conforto, nenhuma novidade surge. Essas frases poderiam ou deveriam ser suficientes para estimular cada pessoa a tentar, a ser ousada para realizar ações que podem mudar o seu estado atual.
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Só que eu quero apontar essa reflexão para outra direção: eu acredito que as pessoas não têm medo de errar. As pessoas têm medo de tentar, de fazer diferente, pois para fazer diferente é preciso desencadear um processo de aprendizado. E o aprendizado é um processo complexo que demanda desconstrução do que já sabemos, humildade para reconhecer o que não sabemos e abertura para o novo.
As pessoas não têm medo de errar. Elas têm medo de que suas ações ou decisões erradas decepcionem outras pessoas ou provoquem o julgamento alheio. E a boa notícia é que as pessoas que se desafiam para sair da zona de conforto têm os mesmos medos. Só que não se deixam paralisar por ele. Sabem que o medo faz parte do pacote da viagem que leva ao sucesso e, principalmente, que no medo também há aprendizado.
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Mas qual é a pior coisa que pode acontecer se eu errar? Arrisco a dizer que a resposta é: aprender, para começar de novo. Num novo status, em outro patamar, mais ciente dos riscos, mais experiente e com maior capacidade de lidar com os desafios.
O problema é que muita gente não gosta do risco. Somos condicionados a estar sempre procurando por estabilidade e previsibilidade porque isso faz parte da nossa busca por segurança. Essa busca está na essência do ser humano há milhares de anos. A pirâmide de Maslow exemplifica isso ao mostrar o quão importante é o alcance e a manutenção das necessidades fisiológicas e de segurança.
Isso significa que ao longo de toda nossa história acordamos diariamente para manter nossa estabilidade. Mas essa busca constante pela segurança tem a tendência de nos colocar numa zona de conforto que ao longo do tempo poderá se tornar mais arriscada do que o próprio risco. E viver, por si só, é muito arriscado, como afirma a escritora e empreendedora Rafaella Capai.
“Risco e vida são tão sinônimos. Basta estar vivo para passear ao lado do risco.”
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Desnecessário explicar a profundidade dessa mensagem, uma vez que, ao buscarmos constantemente a segurança por meio da eliminação do risco, estaremos também eliminando as oportunidades que surgem. Sim, pois oportunidade, risco e benefícios são amigos íntimos que andam de mãos dadas. E, sim, oportunidades aparecem constantemente mas somente as aproveita quem está disposto a arriscar.
Embora a mensagem embutida em tudo o que está aqui escrito seja “arrisque-se!”, convém lembrar que todos os movimentos que iniciamos devem ter um propósito bem claro. Não basta movimentar-se apenas para dizer que estamos saindo do lugar. Não devemos fazer as coisas de qualquer jeito, pois fazer por fazer pode ser pior do que dedicar um tempo a mais na inércia para analisar e planejar o que, de fato, precisa ser feito. Ficar na zona de conforto é arriscado, mas fazer qualquer coisa de qualquer jeito pode ser ainda mais.
O que fazer então?
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Em primeiro lugar, devemos entender que a zona de conforto não é um lugar amaldiçoado, do tipo que faz pensar que a pessoa que lá se encontra pareça estar condenada a não evoluir, nada aprender e a ficar eternamente contemplando o sucesso dos outros. Muito pelo contrário: a zona de conforto é algo temporário, mas necessário em nossas vidas.
Digo isso porque todo mundo, em vários momentos da vida, acaba se encontrando numa zona de conforto. O que muita gente desconhece é que a zona de conforto é muito importante para as pessoas. E eu explico porquê:
Imagine que nossa vida seja uma grande escada e que cada degrau representa uma etapa ou um desafio que superamos. A questão é que essa escada não tem fim. Ou melhor, o que determina o final da escada é o degrau no qual escolhemos parar. O degrau onde estamos é a zona de conforto. No entanto, há pessoas que estão sempre desejando ir para o próximo nível, para o próximo degrau. Ela deseja sair de sua zona de conforto. Mas para subir para o próximo degrau é necessário que ela esteja firmemente apoiada no degrau atual. Ou seja, o que vai nos dar apoio para irmos para o próximo nível é o aprendizado, a firmeza e o apoio obtidos no degrau atual – na zona de conforto.
É na zona de conforto que acabamos descobrindo a vontade de ir para o próximo nível e é ali que adquirimos toda a base necessária para o próximo passo. A zona de conforto é aquele momento da nossa vida em que nos estabilizamos para que possamos nos concentrar, definir os próximos objetivos e planejar os próximos passos. A zona de conforto é, inclusive, importante até para curtirmos e comemorarmos as conquistas realizadas nos passos anteriores. É na zona de conforto que recuperamos o fôlego e tomamos impulso para os novos projetos.
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A zona de conforto é importante porque ninguém consegue estar em constante evolução, atendendo ou provocando mudanças diárias em sua vida. Ou melhor, talvez há pessoas que consigam mas creio que não seja saudável e sustentável por causa de uma frase atribuída à escritora Clarice Lispector:
“A direção é mais importante do que a velocidade.”
O ponto crucial não é estar sempre em movimento, mas sim de saber a direção para onde desejamos nos mover. Somente temos essa certeza quando conseguimos nos concentrar, pensar, planejar, focar e agir. Isso acontece na zona de conforto e é por isso que ela é tão importante.
Além disso, quando essa abordagem sobre a zona de conforto faz sentido para alguém, acabamos eliminando a ansiedade pela “necessidade” de estarmos sempre em movimento.
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A pergunta que não quer calar é: como eu posso usar a zona de conforto a meu favor?
Para expandirmos nossa zona de conforto, passamos por algumas etapas. É como aquela escada que eu falei há pouco. A verdade é que a gente cresce e a nossa zona de conforto também. Essa frase é de um psicólogo chamado Miguel Lucas, que estudou sobre o tema e concluiu que a zona de conforto não é algo do qual saímos. A zona de conforto é algo que expande ao longo da nossa vida. Essa expansão ocorre por meio de um processo que inclui quatro etapas:
Desconforto: é a sensação inicial de incômodo que sinaliza que a inércia está sendo rompida, forçando a pessoa a fazer algo novo, diferente;
Aprendizagem: é a primeira atitude da pessoa que sai da zona de conforto. É a ação de se familiarizar com o novo e de se preparar para lidar com a nova situação;
Adaptação: é quando a zona de conforto é, de fato, enfrentada e superada. A evidência de que a pessoa se encontra nesta fase é que a nova situação não causa mais desconforto;
Adequação: é quando a pessoa expandiu sua zona de conforto e vive nela até que surjam fatos que levem a novas sensações de desconforto, o que leva a começar uma nova caminhada rumo à expansão da zona de conforto.
Eu costumo sempre usar a analogia de uma academia. O que nos leva a procurar uma academia é um objetivo: perder peso, melhorar a qualidade de vida, ganhar massa muscular, etc. A gente vai para uma academia por conta da nossa sensação de desconforto, que é a primeira etapa que eu falei há pouco.
Com o tempo, vamos nos familiarizando com tudo o que diz respeito à academia: o horário, o pessoal, os treinos. O corpo ainda dói, mas reclama menos do que nos primeiros dias.
Daí surge a adaptação, que ocorre quando ir para a academia já virou rotina e você incorporou esse hábito em sua vida. Você está plenamente adaptado a essa nova vida.
Por fim, vem a adequação, que é a fase em que você sabe que precisa dar um próximo passo: malhar mais, aumentar os pesos que está puxando, enfim, propor um novo desafio. Quando chega nessa fase, pode-se dizer que você está em uma nova zona de conforto…
Viu só? Acontece com todo mundo, várias vezes ao longo da vida.
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Fala, galera do Coachitório Online.
Não saímos da zona de conforto apenas uma vez, até porque nossa vida não se resume a apenas um desafio. O degrau aonde chegamos é o ponto de partida para o próximo. A zona de conforto atual é apenas o começo da formação de uma caminhada que irá resultar numa nova zona de conforto. É importante lembrar sempre disso!
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