Transcrição do episódio "167 – Existem super-heróis nas empresas?"
Olá, pessoal! Meu nome é Fabiano Goldacker. Sou Coach Executivo da Ponte ao Futuro.
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EXISTEM SUPER-HERÓIS NAS EMPRESAS?
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Histórias de super-heróis são tão antigas quanto a própria humanidade. Era comum as pessoas atribuírem a algo divino ou heroico a explicação de muitos fenômenos que até então não entendiam. E assim surgiram os super-heróis. Na antiguidade, os super-heróis eram pessoas de “carne e osso” (entre aspas), que realizaram façanhas incríveis, dignas de serem contadas e recontadas nas rodas de conversa que as pessoas faziam em torno da fogueira, em uma espécie de rede social da época.
Para você ter uma ideia, o primeiro super-herói do qual temos registros foi Gilgamesh. Ele foi um rei da Suméria, que teria vivido entre 2.700 e 2.600 a.C. Lendas dizem que Gilgamesh era metade humano, metade divino. Ou ainda, metade humano, metade fantasma. O reinado de Gilgamesh teria durado mais de cem anos e ele teria sido responsável por inúmeras façanhas consideradas sobrenaturais em sua época. Tanto é que essas façanhas teriam inspirado o mais antigo livro sobre super-heróis que se tem notícia. A Epopeia de Gilgamesh foi escrita em torno de 2.650 a.C. e nele há relatos de fatos verdadeiramente heroicos vividos por esse personagem tão antigo.
Super-heróis fazem parte do imaginário da humanidade há muito tempo. Somos todos cativados pelas histórias e façanhas dos heróis que conhecemos desde a infância. Os heróis lendários, os heróis das revistas em quadrinhos e, principalmente, os heróis da vida real – aquelas pessoas “normais” (entre aspas) que realizaram atos de coragem, amor e dedicação que são dignas de admiração e homenagens. Nas últimas décadas, com a popularização cada vez maior dos super-heróis – que saíram das revistas em quadrinhos e foram parar nas telas da TV e do cinema – tenho a impressão de que temos sido cada vez mais estimulados a bancarmos o herói em nossa vida pessoal e profissional.
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E é justamente aí que mora o perigo. Temos sido continuamente estimulados a sermos heróis. Não aquele herói estereotipado, que tem superpoderes, que luta contra o mal e que salva a humanidade, mas sim aquele herói do cotidiano, que realiza façanhas importantes e que tem que dar conta de tudo. Vivemos em um mundo no qual as redes sociais nos dão exemplos diários de superação. Um mundo em que temos que ser bons em todos os aspectos da nossa vida. Um mundo em que não podemos falhar, afinal de contas, somos super-heróis. O que muita gente esquece é que até mesmo os super-heróis das revistas em quadrinhos têm fraquezas e cometem erros. Como afirma a cientista britânica Patricia Fara, quanto mais a fundo se analisa o herói, menos extraordinário se mostra seu comportamento.
Esse negócio de termos que ser super-heróis em tudo que fazemos acontece também no meio organizacional. Tem muita gente achando que tem que bancar o super-herói dentro das empresas, e a boa notícia é que as empresas não precisam de super-heróis. Ou melhor, não deveriam depender de super-heróis. O escritor Silvio Celestino nos ensina que nas revistas em quadrinhos, quando as pessoas dependem de super-heróis, é sinal de que algo vai muito mal. E, no caso da empresa, precisar de um profissional do tipo super-herói é sinal de que algum desastre está acontecendo na gestão.
O problema não é a existência do super-herói, mas sim da existência de um problema que somente um super-herói pode dar jeito. É o tipo de situação em que ouvimos expressões como “apagar incêndios”, que faz com que a gente se sinta que nem um bombeiro – esse sim, um herói, cujo trabalho é salvar vidas e proteger o patrimônio. Problemas acontecem e às vezes a gente precisa que alguém venha nos salvar. Mas problema maior ainda é quando situações como essas acontecem com muita frequência dentro das empresas. Aí, talvez, pode ser que chegue a hora em que o super-herói não vai estar disponível para nos salvar.
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Não dá para negar que o super-herói é um cara diferenciado. Ele reúne várias forças e qualidades e está sempre disponível para ajudar quem precisa. É um cara que sabe de tudo e que provavelmente vai te auxiliar quando você precisar. Mas o fato é que já tem muita gente ligada nesse negócio de super-herói corporativo e já tem muita empresa torcendo o nariz para a existência desses super-heróis, por dois motivos principais: o primeiro é que muita gente acaba não se empenhando, se dedicando ou fazendo o seu melhor porque sabem que, no fim, sempre haverá um herói para salvar. Assim, acabam não se desenvolvendo e não se comprometendo como poderiam ou deveriam, ficando em zona de conforto.
O segundo motivo diz respeito ao fato do super-herói ser um cara tão diferenciado que, às vezes, pode ser difícil trabalhar com ele em equipe. Afinal de contas, as qualidades do super-heróis são tantas que é provável que ele consiga fazer tudo sozinho. E acaba fazendo mesmo. Isso lembra um pouco o episódio #164 do Coachitório Online, quando falamos sobre ilhas de excelência. Em matéria publicada na revista IT Forum, a especialista em gestão de pessoas Maria Alice Mendes avisa que saber trabalhar em equipe é algo cada vez mais valorizado pelas empresas e o que pode fazer a diferença para a carreira é a capacidade de trabalhar em um time que seja diverso e que se complemente.
A criação de equipes que tenham essa diversidade de conhecimento e competências é algo muito estratégico, pois desta forma eliminamos as ilhas de excelência e elevamos o desempenho de todos, de forma igualitária. Além disso, a principal vantagem de equipes múltiplas é que o conhecimento e as competências não ficam somente nas mãos de uma pessoa, pois esse profissional do tipo super-herói pode deixar a sua empresa e fazer com que você fique em uma situação muito delicada porque não haverá mais ninguém para te salvar quando problemas acontecerem.
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Assim como acontece nas revistas em quadrinhos, a maioria dos super-heróis organizacionais não pediu para serem assim. Você já reparou que vários super-heróis das revistas ganhou seus superpoderes sem pedir por eles? Pois é, eu acho que nas empresas também é assim. O super-herói não pediu para ganhar superpoderes. Foi a necessidade que criou a condição ideal para que ele surgisse. Apesar de admirar a pró-atividade e a disponibilidade dos super-heróis, o meio organizacional precisa cada vez menos de heroísmo e cada vez mais de planejamento, comprometimento e trabalho em equipe.
É preciso trabalhar mais com as pessoas, de forma organizada e estruturada, do que sair apagando incêndios diários. Como afirma o escritor e palestrante Augusto Cury, é melhor solucionar de dentro para fora os nossos problemas, pouco a pouco e a cada dia, do que ser herói por um dia. É melhor construir uma equipe que dê conta das situações para que elas não virem problemas e a gente fique parecendo a dona Florinda, do seriado Chaves. Em momentos de aperto, ela perguntava quem poderia lhe salvar e eis que surgia o Chapolin Colorado para salvá-la dos problemas.
O escritor americano Alvin Toffler chama de Complexo de Messias essa situação vivenciada pela dona Florinda. O Complexo de Messias é a ilusão de que a salvação está na pessoa que está no topo, ou seja, o líder. Ficamos esperando que o Messias surja no horizonte para que conserte tudo e ponha as coisas em seus devidos lugares. É a ilha de excelência. Embora a situação da dona Florinda seja algo teatral e um tanto quanto engraçada, a dependência de um super-herói nas empresas pode não ser engraçada em determinados momentos.
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Mas se o super-herói existe, vamos utilizar seus superpoderes não só para que ele salve as empresas quando os problemas surgirem, mas também para ensinar as pessoas e compartilhar os seus superpoderes com elas. É justamente nesse ponto que o super-herói corporativo difere do super-herói do gibi, pois nas histórias em quadrinhos os poderes são do herói e somente dele. Mas no meio corporativo pode ser diferente e nós podemos pedir ao super-herói que nos ensine e nos conte os segredos dos seus superpoderes, pois assim as pessoas e as empresas crescem e podem dar uma folga para o super-herói. Não sei para você, mas para mim faz todo sentido pensar que, nas empresas, herói bom é aquele ajuda a formar pessoas tão competentes quanto ele.
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Fala, galera do Coachitório Online.
Muito embora possa ter parecido que o meu discurso nesse episódio tenha sido crítico com relação aos super-heróis, a verdade é que eu gosto muito deles. Até porque eu acho que, na vida real, todos temos superpoderes e é provável que iremos fazer diversas jornadas de heroísmo ao longo da vida. Aliás, foi isso que nos ensinou Joseph Campbell ao escrever sobre o Herói de Mil Faces. Se você não conhece, vale a pena conhecer a Jornada do Herói que Joseph Campbell deixou de presente para o mundo.
Mas eu quero ouvir você! Que atos de heroísmo você já fez na sua vida? Que atos de heroísmo você tem presenciado na sua empresa? Deixe a sua mensagem em nossas redes sociais ou escreva para fabiano@ponteaofuturo.com.br Ficarei muito feliz com a sua mensagem.
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Também quero te convidar a conhecer a Jornada! É um processo que nós desenvolvemos para promover o seu crescimento pessoal e profissional por meio da metodologia e das ferramentas do Coaching. Tudo isso online! E o melhor de tudo: todo esse processo será conduzido pelo melhor Coach que você já conheceu: você! Conheça a Jornada e seja Coach de si mesmo! Para ter mais informações sobre a Jornada, é só clicar no link deste post.
Encontro você no próximo episódio! Um abraço!