• 6ª Temporada
  • Temas Relevantes para Carreiras Importantes

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163 – O Sapo Fervido

Às vezes, tenho a sensação de que estamos que nem o sapo que está sendo fervido, pois não estamos observando os abalos graduais e constantes que o nosso estilo de vida e trabalho causa sobre a nossa saúde emocional. Quando nos damos conta, pode ser tarde demais. Embora o mais importante neste momento seja reagir a esta situação e adotar posturas e comportamentos que visem a cuidar melhor da nossa saúde mental, penso que também se faz necessário entender os motivos que fazem com que muitas vezes a gente adote o comportamento do sapo que está sendo fervido.

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Transcrição do episódio "163 – O Sapo Fervido"

Olá, pessoal! Meu nome é Fabiano Goldacker. Sou Coach Executivo da Ponte ao Futuro.

O SAPO FERVIDO

Dizer que nós saímos da pandemia ainda parece um exagero. É bem verdade que esse é um assunto que não domina mais o noticiário e as rodas de conversa e que felizmente a vida parece ter voltado ou parece estar voltando à normalidade. O vírus está aí e acho que veio para ficar. Mas a pandemia tem voltado para as mesas de reuniões e para as conversas nas empresas não por conta do número de colaboradores afastados por causa da doença, mas sim por conta do rescaldo da pandemia. Estamos juntando os cacos e agora estamos contabilizando o saldo emocional que a pandemia nos deixou. É o que afirma a neurocientista Thais Gameiro, em matéria publicada pela Revista Você RH.

A matéria em questão diz respeito dos efeitos da pandemia sobre as pessoas, especificamente sobre um grupo específico de profissional: os líderes. Segundo o trabalho divulgado pela Revista Você RH, líderes exaustos têm gerido equipes igualmente exaustas. E faz um alerta: os líderes têm sido cobrados para cuidar da saúde mental das pessoas da sua equipe, mas destaca que os líderes também enfrentam desafios emocionais e que precisam de apoio as empresas. Nós falamos sobre esse assunto lá no episódio #136 da quinta temporada do Coachitório Online. Ao falarmos sobre a importância de cuidar de si próprio para cuidar dos outros, também fazíamos uma pergunta pertinente para os dias atuais: quem está cuidando do líder?

O que mais chama a minha atenção nesse cenário é a passividade com a qual muitas empresas e muitos líderes e gestores têm lidado com o assunto. Parece que estão obedecendo aquela famosa história do sapo que vai sendo fervido aos poucos. Estudos mostram que um sapo colocado em um recipiente, com a mesma água de sua lagoa, fica estático durante todo o tempo em que aquecemos a água, até que ela ferva. O sapo não reage ao gradual aumento da temperatura (que são as mudanças do ambiente) e morre quando a água ferve. No entanto, outro sapo, jogado nesse mesmo recipiente já com água fervendo, salta, imediatamente, para fora.

Qualquer semelhança com a situação do líder nos dias atuais não é mera coincidência. Há empresas e líderes parecidos com o sapo que está sendo fervido, pois não estão observando os abalos graduais e constantes sobre a sua saúde emocional e, quando se dão conta, pode ser tarde demais. Embora o mais importante neste momento seja reagir a esta situação e adotar posturas e comportamentos que visem a cuidar melhor da nossa saúde mental, penso que também se faz necessário entender os motivos que fazem com que muitas vezes a gente adote o comportamento do sapo que está sendo fervido.

A psicóloga Marcia Barone nos ensina que em períodos de crise, passamos por diferentes fases. Em um primeiro momento o corpo reage e aumenta nossa energia para lidarmos com a emergência. Num segundo momento, nos sentimos mais desanimados, cansados, frustrados e vulneráveis aos problemas físicos e psíquicos. É bem isso! É justamente o que temos passado. No começo da pandemia, fomos muito resilientes. Rapidamente aprendemos a trabalhar em home office e adotamos hábitos e cuidados de higiene. Evitamos aglomerações e cultivamos o tal do distanciamento social. Nos privamos de muitas coisas e, na vida profissional, trabalhamos mais e nos dedicamos mais. Depois de um tempo, veio o cansaço, a frustração e até uma certa falta de esperança por não conseguirmos enxergar uma luz no fim do túnel. É o que muitos têm passado agora.

Mas há uma boa notícia: a psicóloga nos ensina que a tendência é a recuperação, é sairmos dessa fase de cansaço. É bom saber disso, mas mais importante ainda é saber o que devemos fazer para sair disso e como estaremos quando sairmos dessa situação. Acredito que a mesma resiliência que fez com que inicialmente lidássemos muito bem com a chegada da pandemia irá fazer com que a gente saia dessa crise. Mas tem uma pequena diferença: quando entramos na pandemia, estávamos com a energia alta, com a moral elevada. Estávamos bem, em média. É mais fácil ser resiliente quando estamos bem. Mas agora estamos com um saldo emocional negativo, abalado. Quero dizer que não é só por meio da resiliência que iremos reconstruir nosso lado emocional. É preciso mais.

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Acredito que como em todo e qualquer processo de recuperação, o primeiro passo é reconhecer que precisamos de ajuda e saber o que está pegando para saber que tipo de ajuda precisamos. É preciso olhar para si e para a empresa, pois só assim iremos saber que tratamento será mais efetivo para os males que afligem a organização. Particularmente, uma das formas que eu considero mais efetiva para fazer esse diagnóstico é uma pesquisa de clima organizacional. Uma pesquisa bem feita e direcionada a mapear o que está doendo e a identificar que melhorias os colaboradores desejam é a melhor forma de ser preciso nas ações a serem aplicadas na organização. Uma boa pesquisa de clima organizacional economiza tempo e dinheiro.

Digo isso porque vejo muitas organizações lançando mão de ações que nem sempre surtem o efeito desejado. Promover a possibilidade do trabalho remoto ou híbrido, adotar jornadas de trabalho flexíveis, adotar políticas de remuneração variável, promover treinamentos de integração, retiros espirituais ou palestras motivacionais são ações que, em média, geram efeitos positivos. Mas talvez não seja isso que a sua empresa precisa. Não adianta botar uma mesa de pebolim ou fazer uma sala de descompressão e anti-stress se a equipe continua defasada e se tem duas pessoas fazendo o trabalho de cinco. Simplesmente não adianta.

Isso vem ao encontro do que uma matéria publicada no jornal El País. As pessoas estão descobrindo que o tempo é uma das coisas mais preciosas que possuem e muitos colaboradores não estão mais dispostos a se entregarem a jornadas de trabalho longas e exaustivas, nas quais se sentem que estão sendo sugados. Segundo a matéria, cada vez mais pessoas estão valorizando a possibilidade de levar seus filhos para a escola sem precisar estar na correria; não entendem por que devem perder uma hora por dia em deslocamentos até o escritório; ou preparar toda noite, rápido e correndo, a marmita do dia seguinte. A matéria ainda pergunta: é viável continuar suportando um trabalho que sempre resulta em redução da qualidade de vida? Os altos níveis de estresse e cansaço mental indicam que não.

Os líderes estão cansados, e líderes cansados não conseguem motivar, promover engajamento e gerar o resultado desejado pelas pessoas e pelas empresas. Pelo contrário: líderes cansados irão gerar mais afastamentos e rotatividade, trazendo um impacto direto e negativo ao resultado. E a culpa não é do líder. A culpa não é da equipe. E eu me pergunto: será que a culpa é da empresa? Aliás, não gosto de usar a palavra culpa, porque ela parece mostrar que há uma intenção de fazer o mal. Eu prefiro falar de responsabilidades. A culpa talvez recaia sobre a pandemia, mas é certo que a responsabilidade é nossa, sobretudo das empresas e, claro, dos próprios líderes e gestores. É preciso levar a empresa para o divã, que nem falamos lá no episódio #152 do Coachitório Online. Mais do que isso, é preciso ouvir as pessoas para que elas digam o que elas desejam que seja feito para melhorar a saúde emocional.

Algumas soluções estão ao nosso alcance, desde já. Reduza o consumo de mídias sociais e assista menos TV. Fique menos tempo na internet, pois ali encontraremos somente notícias negativas ou fúteis, que não irão nos ajudar em nada. Mude hábitos, adote novos comportamentos. Faça boas leituras, medite, faça atividades físicas ou volte a adotar o hábito milenar de encontrar e conversar com pessoas – desde que seja para falar de coisas leves e agradáveis. O certo é que se não mudarmos nossos comportamentos e o que consumimos, dificilmente conseguiremos sair dessa sozinhos. É como nos ensinou Albert Einstein: “insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”.

Fala, galera do Coachitório Online. 

A nossa saúde mental é um tema que tem dado pano para manga. Não quero ser um profeta ou fazer qualquer previsão nesse sentido, mas eu acredito muito que o conceito de empresa tradicional, aquela que vê a pessoa somente como um insumo de produção, está com os dias contados. Os modelos de trabalho tradicionais estão chegando ao fim. Ou melhor, não o modelo de trabalho em si, mas sim o modelo de gestão e liderança e a forma como o colaborador participa do negócio precisam ser revistos. As pessoas estão vendo que não vale a pena o sacrifício e estão dispostas a trabalhar nas empresas que já enxergam o ser humano de uma forma diferente.

Mas eu quero ouvir você! Deixe a sua mensagem em nossas redes sociais ou escreva para fabiano@ponteaofuturo.com.br Ficarei muito feliz com a sua mensagem.

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Encontro você no próximo episódio! Um abraço!