Transcrição do episódio "89 – Aaron Burr – Traído e Traidor"
Olá, pessoal! Meu nome é Fabiano Goldacker. Sou Coach Executivo da Ponte ao Futuro.
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AARON BURR – TRAÍDO E TRAIDOR
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Vou repetir o nome do nosso personagem de hoje: Aaron Burr. Provavelmente você nunca ouviu falar dele, certo? Diferentemente de Harry Potter, Coringa ou Sherlock Holmes, o personagem de hoje é desconhecido para a maioria de nós, brasileiros.
Um desses motivos é que Aaron Burr não é um personagem das séries ou da TV. É o personagem de um musical da Broadway, chamado Hamilton. Hamilton é um aclamado musical, escrito por Lin-Manuel Miranda, que segue a vida e as façanhas de Alexander Hamilton, um dos pais fundadores dos Estados Unidos da América. O espetáculo leva o público a percorrer a biografia do político americano e convida o público a contemplar os fatos importantes e dramáticos que culminaram na fundação dos Estados Unidos da América. E como é um musical, toda a história é contada por meio de composições de rap e hip-hop e os atores/dançarinos dão um show à parte na coreografia e na atuação.
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Entretanto, embora o personagem central do musical seja Alexander Hamilton, a figura mais controversa de todo o musical é Aaron Burr. Bom, talvez você já tenha notado que há outro ponto interessante nessa história. O personagem de hoje do Coachitório Online não é uma figura da ficção. É uma figura real, de carne e osso, que foi um dos personagens centrais da Independência Americana. Mais do que isso, Aaron Burr foi vice-presidente da jovem república que nascia. E sabe quem era o presidente na sua época? O conhecido e venerado Thomas Jefferson.
E eu também não posso deixar de mencionar que outro ponto que torna esse episódio especial é que ele também foi escrito pela minha filha Valentina. Ela é fã declarada dos musicais da Broadway e tem uma paixão especial pelo musical que conta a história de Aaron Burr. Foi ela que destrinchou a personalidade de Aaron Burr e escreveu todo o texto que o ouvinte do Coachitório Online está curtindo neste episódio. Fica aqui o beijo carinhoso de um pai orgulhoso e feliz por mais essa contribuição para o nosso podcast semanal sobre pessoas, carreiras e liderança.
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Assim como acontece em várias histórias reais que são adaptadas para o mundo das artes, o musical não é muito historicamente preciso e deixa de lado vários pontos de melhoria de suas figuras históricas, como o próprio Aaron Burr, que pode seguramente ser considerado o mais controverso dos pais fundadores da república americana. Mas para fazer uma análise mais apurada, é importante separar a pessoa do político. Com seus amigos e sua família, e frequentemente com estranhos, Aaron Burr poderia ser gentil e generoso, e era disposto a defender algumas bandeiras que eram risíveis na época, como por exemplo, permitir e estimular o acesso da mulher à educação formal. Sim, houve época que o autoproclamado país mais democrático do mundo proibia as mulheres de frequentarem a escola.
Mas, voltando a falar de Aaron Burr, pode-se dizer que ele foi notoriamente um mulherengo. Além disso, o caráter dele o colocou em rota de colisão com os outros pais fundadores dos Estados Unidos, porque ele tinha o mal hábito de colocar o interesse próprio acima do bem do todo, e isso era nítido. Os homens que tanto batalharam pela independência americana pensavam que Burr representava uma séria ameaça aos ideais pelos quais haviam lutado na revolução.
Já o personagem Aaron Burr que é descrito no musical, mesmo sendo apresentado como o principal antagonista da história, não foi escrito como um vilão caricato que simplesmente odeia Alexander Hamilton. Na realidade Burr é uma figura com várias camadas, tanto que muitas pessoas simpatizam com ele. Era fácil gostar de Aaron Burr. Tanto é que ele teve amizade com Alexander Hamilton, mesmo que uma rivalidade tenha surgido entre os dois ao longo dos anos. O musical retrata a amizade e o nascimento dessa rivalidade, que só termina quando Aaron Burr mata Alexander Hamilton em um duelo.
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Isso aconteceu no ano do nosso Senhor de 1804. Movido pela inveja provocada pelo sucesso de Hamilton e pela estagnação da sua própria carreira, Burr desafia Hamilton para um duelo com armas de fogo, no qual Hamilton acaba sendo ferido mortalmente. Não, eu não dei um spoiler sobre o musical, até porque a história registra esse fato. O mais interessante é que Aaron Burr nunca foi preso ou processado por este assassinato, pois o código de conduta ou de cavalheirismo da época admitia que certas diferenças pudessem ser resolvidas em um duelo. Imagine isso acontecendo nos dias de hoje…
No fim das contas, o que prejudicou a carreira de Aaron Burr foi a sua filosofia de vida. Enquanto aguardava, pensava antes de decidir e agir e para tentar equilibrar todos os aspectos de sua vida, Hamilton se arriscava e trabalhava demais. Demais ao ponto de colocar sua família em segundo plano, mas isso fez com que a carreira de Alexander Hamilton avançasse enquanto a de Aaron Burr continuava no mesmo lugar por causa da sua indecisão, o que o levou a perder oportunidades. Por isso Aaron Burr demonstrava inveja por Hamilton.
No entanto, ao invés de responsabilizar a si mesmo por sua “falta de sucesso”, ele joga a culpa em Hamilton por não poder participar de discussões e decisões importantes. Além disso, Hamilton o fato de ser capaz de quebrar algumas regras (afinal de contas, estamos falando de política e poder), obviamente enfurece Aaron Burr. Ele se sente ofuscado por Hamilton e isso pode ser observado em uma das canções do musical, chamada “Aaron Burr, sir”, pois mesmo em uma música com o seu nome, a voz de Burr é limitada e moderada, enquanto Hamilton domina a discussão. Fica nítido que Hamilton é o personagem dominante da história e Aaron Burr se sente subjugado por ele.
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Mas nem tudo é zona de conforto para Aaron Burr. Em um determinado momento, ele decide tomar uma ação arriscada e trocar de partido para conseguir uma vaga no senado. Essa vaga pertencia ao sogro de Hamilton, que encara isso como uma ofensa a ele próprio. Porém, apesar da estratégia de Burr ter dado certo e de ter conseguido a vaga no Senado, o seu plano acabou reforçando a impressão de que ele não era fiel ao plano original idealizado para a república americana e que os seus ideias estavam longe de demonstrar virtude política, algo que era muito importante na época. Esse é um dos motivos que fez com que Hamilton decidisse apoiar Thomas Jefferson na eleição presidencial de 1800.
Veja só: Aaron Burr poderia ter entrado para a história como um dos presidentes da nascente nação americana. Ao invés disso, seu egoísmo e vontade de crescer a qualquer custo fizeram com que ele perdesse aliados importantes e conseguisse ser somente vice-presidente do país. Não que ser vice-presidente seja pouca coisa, mas para as ambições políticas de Aaron Burr, isso foi uma grande decepção.
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Só que tem mais: o fato de culpar Hamilton pelo fracasso de todos os seus planos revela que Burr é narcisista, alguém que tende a estar completamente somente centrado em si mesmo e em seu legado. Um exemplo disso é mostrado na música “The world was wide enough”, (que quer dizer algo como “o mundo era grande o bastante”), que narra o duelo sob o ponto de vista de Burr. Na música, ele diz “eu sobrevivi, mas eu paguei por isso.”. Mesmo sendo o que mais sofreu as consequências a longo prazo, já que toda sua história acaba sendo obscurecida por ter matado Alexander Hamilton, ele jamais pensou na família e nas crianças de Alexander, que perderam o pai.
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Mas Aaron Burr tem seus pontos positivos. Já falamos aqui que a sua principal característica, que explica todas as suas ações durante a sua vida, é a sua reticência em agir. Ele é alguém que espera pelas coisas. Só que isso se justifica porque Burr está sempre pensando no longo prazo e acredita que é preciso tempo e paciência para conseguir as coisas. Ao contrário de Hamilton, que se arrisca para conseguir o que quer, Aaron Burr aguarda pelas oportunidades mais seguras, que podem ser relativamente raras, mas valem a pena.
O fato de Burr ter nascido com privilégios financeiros e sociais pode ter influenciado sua filosofia de vida, de esperar pacientemente pelo surgimento de oportunidades antes de agir sobre elas. Na canção “Wait for it”, (que quer dizer “espere por isso”), aprendemos que ele faz de tudo para proteger o legado que sua família carrega. Ao trabalhar duro e evitar enormes erros na administração pública, ele acreditava que poderia manter o status e a riqueza em que nasceu e usá-los como base para alcançar um poder político ainda maior. Burr afirmava que a verdadeira vitória significava morrer aos 80 anos, deixando um legado não apenas imaculado, mas maior do que o que aqueles que vieram antes dele deixaram.
Apesar de Hamilton fazer piada desse pensamento de Burr, chamando-o de tedioso e chato, a cautela de Burr livra ele de situações ruins durante boa parte da história, ao contrário de Alexander Hamilton, que só se mete em encrenca.
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O mais interessante é que ainda que tenha assassinado Alexander Hamilton no duelo, ele não foi motivado pelo desejo de matar, mas sim pelo desejo de não ser morto e, especialmente, de não abandonar sua filha. Burr estava aterrorizado e não comemora a vitória nem por um segundo. Ele se arrepende do momento em que atirou, pois ficou claro que Hamilton não estava mirando e não iria atirar nele.
Apesar da rivalidade, Hamilton era uma inspiração, uma espécie de guia para Aaron Burr. Após a morte de Hamilton, Burr foi para o fundo do poço, assim como seu legado. Isso não é mostrado no musical, mas a história se encarregou de registrar isso. Na vida real, enfrentou acusações de traição em 1807 e teve que fugir para a Europa. Sua vida profissional e pessoal permaneceu em frangalhos até sua morte, em 1836.
Tudo isso porque mesmo tendo sido cauteloso e vacilante por toda uma vida, bastou um ato imprudente para transformar tudo em desastre.
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Fala, galera do Coachitório Online.
A gente estuda a independência americana na escola, mas passa longe de histórias importantes e trágicas como essa que contamos hoje. Eu devo dizer que o meu primeiro contato com Aaron Burr foi por meio de um livro, da sua biografia, produzida pelo excelente escritor americano Gore Vidal. O livro se chama, simplesmente, Burr. Desde então eu fiquei fascinado pela história dessa figura controversa da história americana.
Quando minha filha falou sobre o musical e sobre a história que era contada, fiz questão de conhecer o show para ver a história de Aaron Burr contada sob a ótica de Alexander Hamilton. A peça se esforça tanto lírica quanto narrativamente para destacar o contraste entre as personalidades dos dois protagonistas. Hamilton é uma força externa que mantém Burr avançando. Burr é uma voz interna de Hamilton que, subconscientemente, o mantém sob controle. Um exemplo disso é na canção “Hurricane”, que conta quando Hamilton decide expor seu caso extraconjugal com Maria Reynolds. Aaron Burr se preocupa com seu rival, aconselhando Hamilton a esperar e evitar que arruinasse sua reputação para sempre.
Mas isso daria história para mais um podcast!
Esse é o Coachitório Online. Ao longo da quarta temporada nós vamos contar a história de alguns personagens históricos da vida real, da TV, das séries e do cinema e fazer um retrato de suas principais características. Eu quero agradecer novamente à Valentina, que está se tornando uma experta em escrever para o nosso podcast. Beijo, filhota
E volto a lembrar que você também pode participar ativamente dessa temporada. Diga que personagem você quer ouvir aqui no Coachitório Online. Deixe a sua mensagem e também as suas sugestões e opiniões nas nossas redes sociais. Se preferir, pode escrever para fabiano@ponteaofuturo.com.br
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Encontro você no próximo episódio! Um abraço!