Diz a sabedoria popular que o tempo tudo cura. É comum encontrarmos várias frases que remetem à questão de que devemos deixar que o tempo resolva as coisas. Talvez essa máxima funcione para alguns casos, mas talvez também essa seja apenas uma forma de justificar para nós mesmos a nossa falta de ação em determinados assuntos.
Dar um tempo para as coisas se resolverem é diferente de ter tempo para resolver as coisas. Qual é a diferença? A diferença está no sujeito da ação. Ou você resolve as coisas no tempo certo ou o tempo se encarrega de resolver as coisas. Só que nem sempre o tempo se encarregará de resolver as coisas da forma como você deseja. Esse é o ônus que ocorre quando deixamos de resolver situações que são importantes.
Naturalmente, é bem melhor quando podemos refletir adequadamente antes de tomarmos decisões e é somente o tempo que nos dá essa condição. No entanto, por mais tempo que dispomos, as coisas somente terão o efeito que desejamos se aproveitarmos esse período para agir. Então, o tempo não cura tudo. Aliás, creio que o tempo nada cura. Como diz a escritora Martha Medeiros:
O tempo ensina, mas não cura.
Tempo é apenas o período entre a semeadura e a colheita, o período em que nossas ações levarão para germinar e frutificar e gerar os resultados esperados. Talvez o tempo encubra ou amenize certas dificuldades, mas é importante lembrar que aquilo que ignoramos fica repousando silenciosamente até o momento em que nos vemos obrigados a dar atenção ao que não foi resolvido. Mas aí talvez já seja tarde. Ou talvez as resoluções necessárias sejam mais drásticas do que teriam sido no passado e vão nos forçar a fazer escolhas mais difíceis do que teria sido outrora.
Mas por que é tentador para o ser humano colocar panos quentes sobre as situações ao invés de resolvê-las? Por que levamos ao pé da letra a expressão de que o tempo cura tudo? Creio que parte da explicação reside no fato de que a resolução de determinadas situações pode resultar num conflito, ou seja, ter que enfrentar uma conversa desagradável ou enfrentar opiniões contrárias a sua. Mas creio também que o principal motivo pelo qual muitas vezes optamos por deixar o tempo resolver as coisas é o medo de outro tipo de confronto: o confronto contra nossos próprios bloqueios, limitações, julgamentos e temores. Há o medo de expormos nossas fraquezas e de constatarmos que não temos a razão em determinada situação.