De acordo com a Teoria da Relatividade Geral, o buraco negro é uma região da qual nada – nem mesmo a menor e mais veloz partícula – pode escapar. É como se fôssemos sugados para o núcleo de um órgão onde a noção de espaço e tempo deixam de existir. Embora esse conceito tenha surgido no campo da Física Teórica, a metáfora do buraco negro pode servir para alguns fenômenos que se observam no campo da gestão organizacional.

Se analisarmos a pirâmide hierárquica organizacional, seus três níveis mostram as linhas de comando que existem na maioria das organizações: o estratégico, o tático/gerencial e o operacional. Essa definição serve para deixar claro o papel que cabe a cada nível organizacional nas empresas. No entanto, observa-se a formação de um grande distanciamento entre o nível estratégico e o nível operacional que, em muitos casos, decorre da existência de um excessivo desdobramento desses níveis principais em vários subníveis de comando. Esse desmembramento, por sua vez, demanda que sejam criadas atribuições e funções que venham a justificar a existência desses níveis, o que acaba por burocratizar a empresa e por afastar os extremos da pirâmide organizacional. Essa situação chegou a tal ponto que em muitas organizações a função burocrática se torna mais importante que a produção, venda ou entrega dos produtos e serviços.

Como antídoto para este problema, há muitos anos vem se praticando o downsizing organizacional, que tem a ver com o achatamento da pirâmide organizacional – e com a redução do número de pessoas – e com a revisão de todas as práticas que ocorrem dentro da organização a fim de que o que não agrega real valor ao produto ou serviço seja reduzido ou eliminado. O downsizing organizacional pode gerar resultados muito positivos quando realizado de forma bem planejada.

Por outro lado, traz efeitos colaterais importantes. O mais comum ocorre quando o downsizing se resume somente ao achatamento da pirâmide organizacional sem se ocupar da eliminação das práticas burocráticas e desnecessárias que acontecem dentro da empresa. Como consequência disso, os profissionais que ficam acabam acumulando o trabalho que deixou de ser realizado por aqueles que deixaram a organização. O efeito colateral surge quando o nível estratégico tem que absorver diversas demandas que eram outrora realizadas por executivos de outras áreas, o que lhe distancia do nível operacional sob a alegação de que não há tempo para essa aproximação.

É assim que surge o buraco negro organizacional. As pessoas são cada vez mais sugadas para as demandas da sua operação e assim cada nível hierárquico se isola e acaba criando um distanciamento físico muito grande do outro nível. A gestão fica essencialmente centrada em relatórios e números ao invés de relacionamentos e conversas. Temos menos contato com as pessoas e com isso acabamos perdendo oportunidades de conhecer o real valor dos recursos humanos da empresa e de termos insights e colaborações importantes que sempre surgem quando nos relacionamos com as pessoas de forma genuína. O buraco negro organizacional coloca diversos filtros no relacionamento interpessoal de forma que acabamos conhecendo as pessoas e as situações que acontecem somente a partir dos olhos de outros. Não conseguimos ter nossas próprias percepções e tirar conclusões mais apuradas, o que dificulta a tomada de decisão.

Uma das formas de escapar do buraco negro organizacional é praticar o Management by Wandering Around (algo como “administrar andando por aí”, numa tradução livre), que é uma forma de gerir equipes que tem sido cada vez mais aplicada pelo fato de fazer com que os executivos da empresa fiquem mais conectados as suas equipes à medida que andam pela empresa, fazem perguntas, ouvem as pessoas e colocam-se à disposição para ajudar no que for preciso.

É claro que esse método não prevê que o executivo passe o dia andando pela empresa. Não é necessário. Basta apenas que ele aplique esse método de forma solícita e com frequência que as pessoas vão notar que o buraco negro que outrora existia está desaparecendo e que a gestão da empresa está realmente investindo na melhoria das relações interpessoais no trabalho.

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