Transcrição do episódio "70 – Será que Nós Somos o Que Consumimos?"
Olá, pessoal! Meu nome é Fabiano Goldacker. Sou Coach Executivo da Ponte ao Futuro.
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SERÁ QUE NÓS SOMOS O QUE CONSUMIMOS?
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Eu tenho pensado muito sobre isso. Na faculdade de Administração, principalmente nas disciplinas ligadas ao Marketing e relacionamento com o mercado nós aprendemos que as empresas devem sempre estar atentas à vontade do consumidor, porque é ele quem vai determinar as tendências e aquilo que as empresas devem oferecer. De forma mais simplificada, aprendemos que as empresas devem satisfazer as necessidades e até as vontades do consumidor. As pessoas desejam algo e as empresas se encarregam de produzir e entregar aquilo que a nossa vontade determinou.
Mas eu confesso a vocês que essa lição não está me convencendo mais… O que eu percebo é que cada vez mais está ocorrendo um movimento contrário: as empresas pesquisam, produzem e lançam produtos e serviços e nos avisam que aquilo que elas estão lançando é o que devemos ter, que aquela é a nova tendência e que essa novidade é tudo o que precisamos.
Pode ser que eu seja o atrasado na história. Pode ser que só agora eu esteja reparando em algo que é óbvio para todo mundo (e, se for esse o caso, peço que me desculpem…). Só que, para mim, o fato das empresas estarem definindo o que precisamos consumir gera um impacto muito grande nas nossas vidas.
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Eu nasci em meados dos anos 1970, mas as minhas lembranças mais consistentes são de fatos que ocorreram a partir dos anos 1980. Lembro que a casa dos meus pais tinha tudo o que a gente precisava para sobreviver. Tinha apenas uma TV. Não tínhamos telefone. Havia somente um banheiro. Não tínhamos ar-condicionado e lembro que eu vibrei quando ganhei um ventilador. Havia só um carro em casa. Além disso havia, claro, o fogão, a geladeira e a máquina de lavar. Só um de cada um. Vivíamos bem. Nada nos faltava.
Quando meus pais casaram, a casa em que passaram a viver já estava suficientemente equipada para começar bem a vida de casado. Nada faltava. Eles vivem até hoje na mesma casa, só que, claro, com o passar do tempo e com o advento de todas as modernidades e tecnologias e as tais “necessidades”, a casa precisou ser ampliada e reformada. Não dava para ter somente um banheiro. Hoje tem três. Não dá mais para ter somente uma TV. Agora tem três. Não dava mais para ficar sem ar-condicionado, uma geladeira já não basta e a garagem precisa ter espaço para mais de um carro. E eu me pergunto: será que tudo isso faz com que a gente viva melhor do que vivíamos há 30 anos?
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Agora eu quero dar um salto no tempo para contar outra história, que passei recentemente. Fui convidado de um casamento, do filho de um amigo de longa data. Eu lembro do dia do casamento com bastante carinho, mas lembro também do dia em que o casal veio até a mim para trazer o convite para o seu casamento. Sentamos para conversar e eu perguntei como eles estavam se sentindo e perguntei também como estavam os preparativos para a casa nova. Eles estavam ansiosos para casar e se mudar para o apartamento que haviam comprado e que estavam equipando para começarem a sua vida a dois.
Perguntei o que estava faltando para a casa, interessado em descobrir algo que eu pudesse comprar para dar de presente de casamento. Me surpreendeu o tamanho da lista que fizeram, de coisas “necessárias” para o apartamento. Dois aparelhos de TV, celulares, aparelhos de ar-condicionado, geladeira, freezer, secadora de roupa, depurador, vários jogos de roupa de cama, mesa e banho, etc. Tinha até coisas que eu nem sei direito para que servem. O mais marcante foi o que o jovem casal falou: “- não dá para casar sem ter tudo isso, né?”
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Nada contra, claro que não! Até porque toda essa aparelhagem também faz parte da minha vida. Mas foi legal ter essa conversa com eles porque daí eu percebi quantas coisas supérfluas se tornam necessárias em nossas vidas. Eu pude perceber quantas coisas são “necessárias” em nossas vidas, caso contrário corremos o risco de não sermos felizes. Lembrei do que meus pais precisaram adquirir quando casaram e não pude resistir à tentação de pensar que, antigamente, era mais fácil casar. Vou mais longe: antigamente era mais fácil ser feliz.
Eu digo isso porque eu vejo que cada vez mais nós estamos nos tornando o que nós consumimos. Lembra do que eu comentei lá no começo desse episódio, de que são as empresas que estão definindo o que “precisamos” comprar? Pois é, eu não consigo deixar de pensar que esse fenômeno acaba afetando o nosso sistema de valores. Ao invés de moldarmos a nossa vida e o ambiente ao nosso redor com base no nosso sistema de valores, muita gente tem se deixado influenciar a ponto de que sua mentalidade, suas opiniões e seus valores sejam moldados com base naquilo que o mercado determina e no que a gente vê nas redes sociais. E, assim, acabamos sendo aquilo que consumimos.
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Bom, deve ter alguém pensando agora que eu estou sendo muito fatalista, ou que estou levantando uma bandeira contra as empresas e o mercado. Mas pode ficar tranquilo porque não é nada disso. As empresas precisam fazer o que fazem para sobreviverem no mercado pois, dessa forma, não teremos trabalho e renda. Não há nada de errado nisso. O problema é quando esse consumismo adquire contornos de materialismo.
Você já reparou que a oferta de produtos e serviços aumenta consideravelmente sempre que estamos próximos de uma data comemorativa? As promoções são tentadoras e as empresas se desdobram para que as pessoas comprem seus produtos e serviços. Recebemos estímulos de todas as partes.
Esses são os estímulos consumistas. Ou seja, são os estímulos que recebemos para comprar e consumir aquilo que a propaganda está mostrando. E aqui surge um ponto importante: o estímulo ao consumo ou o consumo propriamente dito – o consumismo – não é um mal a ser combatido. Não vejo o consumismo como algo nocivo ou prejudicial.
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Digo isso porque o consumo é o ápice de uma cadeia produtiva. Sem consumo, todo o restante da cadeia perderia sentido e a maioria das empresas não teria razão de existir. Essas afirmações parecem dramáticas e até óbvias, mas é justamente esse o ponto que separa o consumismo do materialismo.
O consumismo existe quando as pessoas adquirem bens ou serviços para suprirem suas necessidades básicas ou realizarem seus sonhos e desejos de consumo. Já o materialismo aparece quando a pessoa valoriza muito mais o que ela tem do que o que ela é. O materialismo se manifesta quando uma pessoa julga as outras a partir do que elas têm, ao invés do que elas são. É quando os valores materiais superam os valores éticos e morais. É quando compramos coisas em função dos outros, quando consumimos sem propósito.
O problema não está na compra ou no consumo em si. Não há problema em comprar a roupa ou a joia cara, o carro importado ou de fazer aquelas viagens que para a maioria das pessoas poderia acontecer somente em sonho. O problema está na pessoa que nos tornamos quando tudo isso acontece. Muita gente não se torna aquilo que consome. Apesar de terem elevado padrão de vida, seguem sendo pessoas humildes, com valores bem fundamentados e que respeitam a tudo e a todos. São pessoas que não se tornaram o que consumiram. Mas há os que mudam consideravelmente quando passam a viver no modo materialista. Os valores, as crenças e a mentalidade mudam tanto que muitos ficam irreconhecíveis e se afastam (ou são afastados) do convívio com aqueles que sempre estiveram ao seu lado.
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Aliás, você deve ter reparado que eu estou falando do consumo somente do ponto de vista material e sequer comentei dos sentimentos e emoções que também consumimos. Sim, é isso mesmo: todos nós consumimos diariamente uma grande dose de sentimentos e emoções, que são internalizados em nosso corpo, mente e coração e que definem a forma como vivemos a vida. Quando damos muito valor à ingratidão, consumimos a ingratidão. Quando damos muita importância à tristeza, consumimos a tristeza. E o mesmo vai acontecendo com o ódio, a incerteza, a insegurança, a falta de perdão, etc. Quando consumimos coisas negativas, nos tornamos justamente aquilo que consumimos. Trata-se de um veneno que colocamos em nosso próprio copo e tomamos diariamente.
Por outro lado, quando consumimos emoções como a gratidão, o amor, o perdão e o altruísmo, a nossa vida acaba sendo moldada por esses sentimentos positivos e isso também faz uma diferença muito grande na forma como vivemos a vida. E o mais interessante é que as pessoas que vivem as suas vidas sob uma ótica materialista são as que têm mais tendência a experimentar sentimentos e emoções negativos, pois nunca estarão satisfeitos com aquilo que têm porque estarão sempre se comparando com os outros. Por outro lado, pessoas que enaltecem os seus valores e que não são se tornam aquilo que consomem são as que provavelmente irão experimentar emoções e sentimentos positivos. Sabe por quê? Porque estão em paz com o seu coração.
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Fala, galera do Coachitório Online.
Faz sentido pensar que a forma como lidamos com os bens materiais está diretamente relacionada aos nossos valores e crenças? Faz sentido pensar que uma vida materialista pode gerar emoções e sentimentos mais negativos? Olhe para si mesmo! Eu peço que você olhe para a pessoa que você se tornou e descubra se essa versão de si mesmo foi construída a partir dos seus valores ou a partir do materialismo. Talvez aí esteja a resposta para muitas de suas inquietações.
Por isso eu te convido a dar olhada no site da Ponte ao Futuro para descobrir a jornada do autoconhecimento. O conhecimento de si mesmo é o primeiro passo para encontrarmos o nosso tesouro.
Muito obrigado a você que nos acompanha semanalmente aqui no Coachitório Online. Quero dar as boas-vindas para quem está chegando agora. O nosso podcast semanal sobre pessoas, carreira e liderança está na terceira temporada e eu aproveito para te convidar a curtir todos os nossos episódios e temporadas pela sua plataforma favorita.
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Encontro você no próximo episódio! Um abraço!