Transcrição do episódio "178 – Emile Verhaeren e a Dúvida"
Olá, pessoal! Meu nome é Fabiano Goldacker. Sou Coach Executivo da Ponte ao Futuro.
—
Vamos falar de:
DÚVIDA
—
A inteligência foi dada ao Homem para duvidar
—
Para o episódio de hoje eu escolhi outra frase que parece um paradoxo. Inteligência e dúvida na mesma frase parecem não combinar. Parece que é que nem água e óleo: não se misturam. Mas ao analisarmos com mais cuidado o que essa frase nos ensina, começamos a perceber o quanto ela é verdadeira. Esta frase foi proferida por Emile Verhaeren, poeta e escritos nascido na Bélgica em meados do século 19 e que deixou para o mundo vários contos, poesias, peças de teatro e críticas literárias. Sua poesia envolvia temas como o naturalismo e o misticismo. Sua obra é tão rica que ele foi indicado seis vezes para o Prêmio Nobel de Literatura. Embora nunca tenha sido premiado, a qualidade de suas obras foi amplamente reconhecida e na cidade em que nasceu há até um museu especialmente dedicado ao seu trabalho.
Mas vamos voltar à frase do nosso autor. Ele defende que a inteligência foi dada ao ser humano para duvidar. E eu comentei que parece contraditório colocar as palavras inteligência e dúvida na mesma frase, ainda mais quando, segundo o autor, a inteligência serve para que tenhamos mais dúvida. E aí eu não consigo deixar de lembrar (e de citar) uma frase com significado e impacto semelhantes. Muitos séculos atrás, o filósofo grego Aristóteles afirmava que a dúvida é o princípio da sabedoria. De forma muito semelhante ao pensamento do filósofo, Emile Verhaeren também entende que todo conhecimento e toda sabedoria começam pela dúvida. Assim eu lembro também daquela frase que escutamos várias vezes ao longo da vida: quanto mais eu aprendo, parece que menos eu sei.
—
Concordo com tudo isso. Eu tenho também a sensação de que quanto mais eu leio, estudo ou tento aprender algo, menos eu sei sobre aquele assunto. Além disso, aumenta ainda mais a minha certeza de que há muito mais coisas para aprender, das quais eu nem faço ideia. Por isso que é importante a gente falar um pouco mais sobre a palavra “dúvida”. O dicionário traz várias definições sobre a palavra dúvida, inclusive aquela que diz respeito a dificuldade que temos de entender algo e também a incerteza de confirmar ou negar algo. Mas o dicionário também nos apresenta outro significado que eu acredito que faz muito mais sentido para o que estamos falando aqui. Dúvida é o sentimento de incerteza ou de desconfiança a respeito da verdade de um fato ou de uma afirmação.
Eu gosto muito desta definição porque é preciso desmistificar o sentido negativo da palavra dúvida. Lembro que na escola, quando o professor perguntava quem tinha dúvidas sobre o que havia explicado, poucas eram as mãos que levantavam para perguntar. E eu tinha certeza de que tinha muito mais gente com dúvida a respeito daquele conceito de matemática ou gramática que acabara de ser explicado. Embora muitos tivessem dúvida, poucos perguntavam. Talvez por vergonha, para não fazer feio na frente dos colegas ou para não ser visto como um aluno “burro”, muitos baixavam a cabeça e preferiam continuar com a dúvida. E a prova vinha cobrar a nossa passividade.
Então nós crescemos e fomos para o mercado de trabalho e, embora não seja possível generalizar, acabamos encontrando um ambiente semelhante aquele que tínhamos na escola. As explicações vinham de algum colega mais experiente ou do líder – geralmente alguém sem paciência ou método para ensinar – e daí a gente tinha que se virar para aprender rapidamente, na base da tentativa e erro e da observação. Perguntávamos uma ou duas vezes, até escutar aquela clássica frase: “- Mas eu já te expliquei isso tantas vezes!” E daí, em um passe de mágica, aprendíamos! Só que não. Na realidade, apenas parávamos de perguntar. Muitos de nós cresceram em ambientes em que a dúvida está muito longe de ser uma dádiva ligada à inteligência. Para muitos de nós, confessar uma dúvida era como confessar insegurança ou incompetência.
—
Esse tipo de dúvida é muito nociva para a nossa carreira. O mercado de trabalho quer lidar com pessoas prontas, inteligentes, que sabem tudo e que estão muito seguras do que dizem ou fazem. Mas isso é uma ilusão cada vez maior. Primeiro, porque infelizmente a mão-de-obra chega às empresas cada vez menos preparada no sentido mais amplo, ou seja, há carências de formação humana, profissional, social e por aí vai. E em segundo lugar há que se reconhecer que o mercado de trabalho é muito mais amplo e complexo do que já foi.
É verdade que o conhecimento e a inteligência são capitais muito valiosos para as empresas porque eles influenciam diretamente no desempenho da organização. O conhecimento representa a inteligência da organização, propiciando a análise crítica e a tomada das ações necessárias, em todos os níveis. A experiência e o conhecimento das pessoas servem como subsídio para a tomada de decisões das organizações, com o objetivo de torná-las mais competitivas. Até aí, tudo certo! Até porque eu teria que rasgar muitos textos, episódios de podcast e desacreditar muita coisa que eu li e escrevi se eu discordar que o conhecimento e a inteligência estão a serviço da organização para que ela tenha melhores resultados.
O que eu questiono é a forma como a dúvida é tratada no ambiente organizacional. Em um ambiente competitivo e complexo, parece que ter dúvida é um retrocesso. Mas as pessoas que assim pensam ignoram a riqueza que há por trás das mentes que questionam, que duvidam e que, assim, põem em xeque-mate todas aquelas crenças, formas de pensar e velhos hábitos que impedem as empresas de prosperarem.
—
Por isso que eu quero abordar a questão da dúvida sob o aspecto do sentimento de incerteza ou de desconfiança a respeito da verdade de um fato ou de uma afirmação. Se analisarmos essa definição cuidadosamente, vamos descobrir que a dúvida é o gatilho que faz com que a gente questione uma verdade ou situação que nos é apresentada. A dúvida é aquela pulga atrás da orelha que nos avisa que aquilo que lemos ou que nos foi dito ou apresentado não é a verdade completa das coisas. Eu digo que esse tipo de dúvida é um gatilho porque é a partir dela que nos colocamos em marcha para pesquisar, aprender, enfim, ir mais a fundo para que a gente saiba a verdade das coisas.
O mais interessante é que é preciso ser inteligente para ter esse tipo de dúvida. Ou melhor, para se permitir ter esse tipo de dúvida, reconhecer que ela existe e irmos atrás das respostas que nos satisfazem. É preciso ser inteligente para ter a coragem de duvidar. Emile Verhaeren dizia que a inteligência nos foi dada para duvidar porque, para duvidar, é preciso sermos inteligentes o suficiente para questionar, criticar e não aceitar barato aquilo que tentam nos empurrar goela abaixo. É preciso ser inteligente para duvidar, fazer as perguntas certas, saber onde procurar e reconhecer quando encontrar a verdade que apaga a nossa dúvida.
Aliás, em época de fake news, duvidar talvez seja o verbo menos presente no nosso dia-a-dia. Aceitamos que nem cordeirinhos as verdades que são colocadas diante de nós. A dieta milagrosa, aquele aplicativo ou truque de marketing que vai fazer você ficar rico em duas semanas, as opiniões dos supostos formadores de opinião ou influenciadores de credibilidade duvidosa estão aí, pipocando na nossa timeline e seduzindo todos nós para acreditarmos facilmente no que é dito ou oferecido. Apesar de fazer esta fala em um tom debochado, irônico e bastante crítico, sei que eu também posso ser visto da mesma forma, porque eu também habito o mesmo ambiente virtual em que todas essas pessoas se encontram. E daí cabe a cada um ter a inteligência para duvidar de algumas coisas e acreditar em outras.
—
Por isso que eu acredito que a dúvida é o princípio da sabedoria. Que a inteligência foi dada ao ser humano para duvidar. Por isso que eu acredito que, quanto mais aprendemos, maior é a sensação de que pouco sabemos e de que há muito mais coisas a aprender. Precisamos acreditar que é preciso ser inteligente para questionar, ir além e desafiar os pensamentos amarrados e o jeito travado de fazer as coisas, no velho estilo do “sempre foi feito assim”, pois acreditar que a inteligência é uma dádiva que vai fazer com que a gente cresça motivado pelas dúvidas é mais do que meio caminho andado para nosso crescimento e evolução. Faz bem para a vida, faz bem para a carreira.
—
Fala, galera do Coachitório Online.
Trabalhamos cada vez mais com a inteligência artificial para que esta supra as imperfeições da nossa mente, da nossa capacidade de raciocinar ou armazenar informações. Mas eu me permito pensar o contrário. Me permito acreditar que serão as imperfeições da inteligência artificial que vão valorizar o poder do cérebro humano de questionar, pesquisar e fazer descobertas que serão boas para o crescimento e evolução de todos. Aliás, é também importante dizer que todo trabalho científico começa com uma dúvida, uma questão, uma hipótese. Significa dizer que o cientista ou o pesquisador começa o seu trabalho com uma dúvida que talvez só tenha feito sentido porque foi inteligente o suficiente para reconhece-la.
Mas eu quero ouvir você! Você usa as suas dúvidas para aprender mais? Como as pessoas ao seu redor se comportam diante de atitudes de questionamento ou dúvidas? Ficarei feliz em receber o seu comentário.
E aproveito para lembrar que você pode participar ativamente dessa temporada. Diga que frase ou personalidade você quer ver aqui no Coachitório Online. Deixe a sua mensagem e também as suas sugestões e opiniões nas nossas redes sociais. Se preferir, pode escrever para fabiano@ponteaofuturo.com.br
Também quero te convidar a conhecer a Jornada! É um processo que nós desenvolvemos para promover o seu crescimento pessoal e profissional por meio da metodologia e das ferramentas do Coaching. Tudo isso online! E o melhor de tudo: todo esse processo será conduzido pelo melhor Coach que você já conheceu: você! Conheça a Jornada e seja Coach de si mesmo! Para ter mais informações sobre a Jornada, é só clicar no link deste post.
Encontro você no próximo episódio! Um abraço!
