Transcrição do episódio "169 – A espiritualidade nas empresas"
Olá, pessoal! Meu nome é Fabiano Goldacker. Sou Coach Executivo da Ponte ao Futuro.
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A ESPIRITUALIDADE ORGANIZACIONAL
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Cada pessoa possui formas de pensar, aspirações pessoais, formas de agir diferentes que podem gerar conflitos devido as divergências de opinião, de comportamento e de cultura de cada um. Cada pessoa é marcada pelos aspectos culturais, históricos, sociais que o cercam e moldam o seu comportamento social. Esse processo de formação social acontece do momento que nascemos até o momento em que morremos.
Dessa forma, a vida em sociedade demanda o seguimento de algumas regras, as quais auxiliam na solução de conflitos e ditam os padrões comportamentais. A espiritualidade nesse contexto, atribui significado as regras para além do cumprimento da lei. A espiritualidade exerce o papel social de ofertar explicações para os fatos que a razão ainda não tem resposta, para as situações que ultrapassam a capacidade de entendimento humano.
Mas ainda vivemos de acordo com as regras da 2ª Revolução Industrial ou das Teorias da Administração Científica de Taylor e Fayol. No entanto, a relação das pessoas com o trabalho vem mudando consideravelmente. Expressões como “propósito”, “sentido do trabalho”, “realização”, “engajamento”, “pertencimento”, entre outras, estão se tornando cada vez mais populares no vocabulário do ser humano nas empresas. Estas palavras estão ligadas à realização pessoal profissional, assunto que tem se tornado cada vez mais importante nas empresas porque tem a ver com um sentimento de integração das pessoas com o trabalho, pois leva os colaboradores a se sentirem conectados com as atividades que desempenham e com as demais pessoas envolvidas no trabalho, gerando satisfação e realização.
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Isso faz com que as organizações precisem lançar mão de ferramentas e metodologias de gestão que tenham como objetivo fazer com que as pessoas percebam que o local onde trabalham é, também, um local para a sua realização profissional. Todas as ações que objetivam a atração e a retenção de talentos na organização tem como finalidade a criação de uma conexão destas pessoas com os propósitos da organização. Em última instância, todo esse conjunto levará inevitavelmente ao aumento ou preservação do resultado da organização – item fundamental para a sua perenidade e para que a empresa continue cumprindo suas funções sociais.
Uma das formas de fazer com que essa conexão do colaborador com a empresa ocorra é por meio da espiritualidade individual. A espiritualidade é um fenômeno presente nas organizações, que faz com que cada pessoa descubra que a sua sobrevivência não depende somente de alimento, mas também de coisas intangíveis como a aceitação, a paz de espírito, sensação de realização e propósito, entre outros. Esse fato não é novo, visto que Abraham Maslow, ao propor sua teoria sobre a Hierarquia das Necessidades revelava ao mundo que as questões físicas e materiais representam somente uma pequena parte – uma parcela inicial – do que o ser humano precisa e aspira. As questões materiais são essenciais para a sobrevivência, mas, ao longo da vida, as pessoas tendem a buscar por coisas que superam os aspectos físicos e materiais para alcançarem questões como o status, a realização pessoal ou senso de propósito.
É importante saber que a espiritualidade se alinha à noção de que há uma ordem invisível das coisas por trás do véu do materialismo. Física quântica, caos, complexidade e teoria de sistemas demonstraram a realidade dessa ordem invisível e mostraram que tudo está conectado a tudo o mais. Essa realidade invisível é um fenômeno espiritual que pode mudar nossa perspectiva sobre a sociedade
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É possível fazer uma relação direta entre esses pontos “intangíveis” da teoria de Maslow com a espiritualidade organizacional, pois a espiritualidade é um processo contínuo de evolução e autoconhecimento que culmina na realização pessoal e resulta em uma forma diferente de pensar e agir no mundo. A parte intangível da espiritualidade dentro das empresas é, também, seu principal desafio, pois as questões subjetivas ou invisíveis do mundo espiritual não são fáceis de serem analisadas. Além disso, nas últimas décadas, os cientistas foram incentivados a estudar apenas o mundo natural. As ‘verdades’ espirituais eram relegadas às esferas da religião e da metafísica e encontravam (ou ainda encontram) pouca aceitação no campo das ciências.
Essa visão reducionista do papel do ser humano no ambiente organizacional tem mudado. De forma lenta e gradativa. Mas tem mudado. O assunto “espiritualidade” é provocativo. A própria natureza do assunto é profundamente pessoal e muitas pessoas ficam tensas com a introdução deste tema no mundo dos negócios. Cada vez mais as pessoas querem saber sobre as implicações da espiritualidade em seu trabalho. Essas implicações são diversas e não se limitam ao universo individual do ser humano, pois a espiritualidade também contribui para a imagem social da organização ao estimular que seus colaboradores adotem ações voltadas para o bem-comum, fornecendo uma imagem positiva da organização para além da prestação do serviço.
Não é possível afirmar que a espiritualidade é um conceito vinculado única e exclusivamente ao espiritual. Enquanto alguns conceitos reforçam a crença no mundo espiritual, outros estão mais ligados à crença na força intelectual e à fé que a pessoa deposita em si mesma. Da mesma forma, a espiritualidade não se refere exclusivamente à religião, visto que não é obrigatório se ter religião para se ter espiritualidade. Quero dizer que espiritualidade e religião não são sinônimos, pois a espiritualidade é a crença que uma pessoa ou grupo de pessoas possuem e que orienta suas atitudes. Já a religião condensa as práticas que o indivíduo ou grupos de indivíduos realizam para exercitar essa crença, são os rituais que permeiam a vivência da espiritualidade.
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Os elementos que constituem a espiritualidade são diversos e inegáveis e a espiritualidade é um fenômeno individual, uma experiência interior da pessoa, resultante de um processo de autoconhecimento desenvolvido ao longo da vida. Essa espiritualidade é construída pelas próprias pessoas, pautada na cultura, sistema de valores e crenças que moldam o meio em que a pessoa está inserida. O fato é que a espiritualidade é um fenômeno presente nas organizações porque ela é construída e transmitida dos níveis mais estratégicos até os níveis mais operacionais, fazendo com que a espiritualidade seja parte da sua cultura. Da mesma forma, as pessoas carregam a sua espiritualidade para dentro das organizações e lá podem influenciar o ambiente em que estão inseridas.
A abordagem da espiritualidade no local de trabalho tem sido cada vez mais vista com credibilidade como um apoio às práticas de Recursos Humanos, pois o aspecto espiritual no local de trabalho reduz o stress, aumenta a criatividade e a capacidade de resolver problemas. A espiritualidade no local de trabalho envolve o esforço para descobrir o propósito de vida do indivíduo, para que este desenvolva uma forte conexão com colegas e outras pessoas no trabalho e encontre consistência e alinhamento entre suas crenças individuais e os valores organizacionais.
Para as empresas, seria correto dizer que a escolha com a qual se deparam neste momento não é se as organizações podem se tornar mais espirituais, mas como elas podem. Além disso, os líderes estão começando a entender melhor o impacto que seu comportamento tem sobre os outros, sobre as organizações e a sustentabilidade do planeta e à medida que crescemos em nossa capacidade de falar abertamente sobre espiritualidade, sem dúvida encontraremos diferenças em nossos pontos de vista e enfrentaremos conflitos, mas também poderemos descobrir novos entendimentos sobre nosso trabalho e encontrar novas maneiras de enfrentar algumas das dificuldades que nos cercam na vida organizacional.
Outras complicações ao discutir a espiritualidade podem surgir porque as pessoas estão em pontos diferentes da sua compreensão dela. De fato, esse é um aspecto fundamental da espiritualidade: ela não é um fenômeno estático, pois envolve mudança e é central em nossa jornada em direção ao crescimento e à plenitude. É útil reconhecer que, assim como existem estágios de desenvolvimento em nossos comportamentos cognitivos, também existem estágios em nosso desenvolvimento espiritual. Mas é importante salientar que a espiritualidade no ambiente organizacional não tem por intenção doutrinar as pessoas, mas promover a adoção de formas de pensar e agir na organização para além da produção, levando em consideração não só os elementos organizacionais tangíveis, como também os intangíveis.
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Fala, galera do Coachitório Online.
Apesar da popularidade e da importância da espiritualidade no local de trabalho, o tema tem recebido pouca atenção dos especialistas em gestão. Uma razão para esta falta de atenção pode ser a visão de que a espiritualidade não existe (por conta da sua natureza não-material) e, por isso, não influencia a Administração. Mas eu acredito que é apenas uma questão de tempo, pois a ciência tem avançado nas pesquisas que estudam os efeitos da espiritualidade no ambiente de trabalho. E o mais importante: as pessoas estão se interessando mais pelo tema.
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