Transcrição do episódio "125 – A Hierarquia das Necessidades"
Olá, pessoal! Meu nome é Fabiano Goldacker. Sou Coach Executivo da Ponte ao Futuro.
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A HIERARQUIA DAS NECESSIDADES
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Lá nos anos 1980 foi lançada uma música que fez muito sucesso nas rádios e nos palcos do nosso país. Uma parte da letra dizia o seguinte:
A gente não quer só comida
A gente quer comida, diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida como a vida quer
A música se chama “Comida” e foi escrita e gravada pelos Titãs. Nessa mesma canção, uma parte da letra falava de desejo, necessidade e vontade. Não sei dizer qual foi a inspiração que a banda utilizou para a letra desta música, mas, para mim, essa música sempre foi uma ilustração para eu poder falar sobre um tema que eu gosto muito: a hierarquia das necessidades.
Você já deve ter ouvido falar da pirâmide da hierarquia das necessidades de Maslow. Desde que foi divulgada, a pirâmide de Maslow se transformou na queridinha de muitos professores e treinadores que atuam na área comportamental, tanto é que ela aparece em vários cursos superiores, cursos de extensão e treinamentos pelo mundo afora. Essa teoria foi publicada no ano de 1954 no livro “Uma Teoria da Motivação Humana”, escrito pelo psicólogo americano Abraham Maslow, o pai desta teoria.
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A pirâmide de Maslow e a letra da música dos Titãs falam sobre necessidades. Mas o que vem a ser uma necessidade? O dicionário nos ensina que necessidade é aquilo que não podemos evitar, aquilo que é urgente. O escritor James Hunter (aquele que escreveu a célebre obra “O Monge e o Executivo”) afirma que necessidade é um requisito físico ou psicológico legítimo para o bem-estar de um ser humano.
Maslow desenvolveu a sua teoria a partir das observações científicas que ele fez em macacos. Ele constatou que as necessidades pessoais é que motivavam os macacos a fazerem determinadas escolhas comportamentais. Quando os primatas tinham as suas necessidades fisiológicas atendidas, se tornavam mais sociáveis. Mas se tornavam agressivos quando lhes faltava comida, por exemplo. Maslow inferiu que as mesmas escolhas comportamentais ocorrem com o ser humano e que elas variam de acordo com o grau de satisfação de três tipos de necessidades: as primárias (que incluem as necessidades fisiológicas e de segurança), as secundárias (que incluem as necessidades sociais e de estima) e as necessidades de realização pessoal.
Apesar de haver atualizações e muitas críticas a esse estudo, a existência de uma espécie de hierarquia para as nossas necessidades e o fato de elas influenciarem nossas escolhas comportamentais faz muito sentido para mim. O que não impede, claro, que a gente possa vislumbrar novos elementos para esta pirâmide.
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Não é preciso muito para satisfazer as necessidades biológicas efetivas do Homo Sapiens. Ter boa saúde, ter acesso a comida e um lugar para morar são suficientes para dar ao ser humano uma condição básica para sobreviver. Coisas básicas, de fato, mas que ainda estão fora do alcance de milhões de pessoas em todo o mundo. Muito embora a humanidade tenha criado um mundo frio e mecanicista mal-adaptado a nossas necessidades reais, não acredito que a modernidade ou as revoluções industriais sejam as culpadas pela situação de desigualdade que vivemos hoje. Acredito que seja uma questão de ordem social, mas não em um sentido revolucionário ou até de posicionamento político que muita gente utiliza quando se refere à ordem social. Me refiro a uma questão de equilíbrio entre necessidades e recursos. Essa ordem social exige o conhecimento exato das necessidades e dos recursos disponíveis para a sociedade e um equilíbrio constante entre essas necessidades e esses recursos.
O nosso grande desafio é segurar a peteca no que diz respeito à urgência cada vez maior que nós temos no que diz respeito ao atendimento das nossas necessidades. É aquela história da dor que mais dói, que falamos lá no episódio #106 do nosso podcast. Quando se trata das nossas dores, das nossas necessidades, é fácil nos tornarmos individualistas e até egoístas, ignorando completamente o outro e a ordem e o equilíbrio social. Sob condições de escassez, as pessoas brigam para atender suas necessidades imediatas.
Sabe qual é a mudança que eu vejo como necessária à hierarquia de necessidades desenvolvida por Maslow? As necessidades sociais, as demandas do grupo, sendo colocadas em um mesmo nível de urgência do que as necessidades individuais. E quando eu penso dessa forma eu vejo que faz muito sentido equilibrarmos o individual e o coletivo. Mas eu também vejo o tamanho do desafio que temos pela frente, porque uma das leis mais fortes da história é que os nossos luxos e desejos tendem a se tornar necessidades, gerando assim em nós a obrigação de garantirmos que estas “necessidades” sejam atendidas. Passamos a contar com o atendimento desses desejos até o ponto em que não podem viver sem. Assim, olhamos cada vez mais para o nosso próprio umbigo, para o nosso mundinho, porque cada vez maior é o leque de itens que consideramos necessários para viver. E a sociedade? Bom, ela que se vire, porque eu também estou tendo que me virar. Infelizmente, é assim que muita gente pensa e age.
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Essa forma de pensar sugere um desequilíbrio entre o que é individual e o que é coletivo. Estamos em uma sociedade presa a um processo complexo e veloz de mudança, o que faz com que as necessidades individuais – que se originam da nossa interação com o ambiente externo – também mudem a uma velocidade relativamente alta. Quanto mais rapidamente a sociedade muda, mais temporárias são as necessidades, o que nos empurra rapidamente para uma era de produtos temporários, feitos por métodos temporários, para servir a necessidades temporárias. Por serem temporárias, novas necessidades surgem a cada momento e isso faz com que a gente fique ansioso por atendê-las, o que faz com que fiquemos presos a esse ciclo implacável que nos estimula a atender somente aquilo que é urgente para nós, em detrimento daquilo que é importante para o coletivo.
E como todo ciclo, essa dinâmica implacável renova nosso individualismo e egocentrismo, fazendo com que fiquemos mais fechados em nós mesmos, afinal de contas, é o meu mundo que importa. A vida em comunidade, que antes preenchia as necessidades emocionais das pessoas e eram essenciais para a sobrevivência e o bem-estar de todos, definhou e perdeu o sentido e assim surgiu um vácuo emocional na vida das pessoas que, erroneamente, tem sido preenchido com coisas materiais ou com um olhar somente para o próprio umbigo. Uma pessoa que vive em solidão, por mais forte e instruída que seja, dificilmente conseguiria ser autossuficiente nas mais simples necessidades vitais.
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Mas qual seria, então, o novo elemento que deveria ser adicionado à Pirâmide de Maslow? Aliás, será que essa teoria está desatualizada e precise de uma revisão?
Eu creio que sim, até porque poucas são as teorias que resistem bravamente aos efeitos do tempo e da tecnologia. A Pirâmide de Maslow faz muito sentido, ou melhor, nunca fez tanto sentido e é justamente por isso que eu penso que deveríamos revisitá-la com o objetivo de encontrar os elementos ou até uma nova hierarquia de necessidades que nos ajude a entender melhor o que está acontecendo com a nossa Sociedade e, principalmente, que nos leve a promover mudanças individuais e coletivas que melhorem a vida de todos.
Minha modesta opinião a respeito é a de que a teoria das necessidades humanas é muito completa, o que me faz afirmar que o problema não está nas necessidades primárias, secundárias ou de realização pessoal que estão descritas na teoria. O problema está justamente na hierarquia. Será que ainda faz sentido organizar ou ordenar a motivação humana da forma como está, em uma pirâmide? Eu acho que no caso da Pirâmide de Maslow a ordem dos fatores está alterando o produto final.
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Fala galera do Coachitório Online!
Lá no episódio #117, quando falamos sobre negligência e imprudência, eu comentei que muita gente se comporta como a avestruz, preferindo enfiar a cabeça em um buraco para fazer vistas grossas ao que acontece em seu redor. Apesar de citar esse comportamento folclórico da ave, no fim do mesmo episódio eu fiz uma justiça histórica com a simpática avestruz, pois quando ela enfia a cabeça no buraco não está se escondendo de nada. Está apenas procurando por comida. A mesma justiça histórica precisa ser feita com Abraham Maslow, pois embora ele tenha falado com muita propriedade sobre as necessidades do ser humano, ele jamais elaborou uma pirâmide ou uma hierarquia de necessidades. Isso mesmo! A pirâmide de Maslow não é dele. Abraham Maslow descreveu uma teoria sobre a motivação humana, mas jamais colocou as necessidades em uma hierarquia, tampouco em uma pirâmide. O artigo que ele publicou em 1943 e que motivou o lançamento do seu livro em 1954 não faz menção alguma a uma pirâmide. Ela foi elaborada e divulgada posteriormente por um consultor, que deu o nome de Maslow à pirâmide porque sua inspiração para a pirâmide havia sido a teoria de Maslow.
Independente disto, a pirâmide ainda exerce muita influência sobre os estudos do comportamento humano nas organizações. E eu quero aproveitar para lhe perguntar: em que fase da pirâmide você se encontra? Se fizer sentido, compartilhe a sua resposta com a gente. Deixe a sua mensagem, sugestões e opiniões nas nossas redes sociais. Se preferir, pode escrever para fabiano@ponteaofuturo.com.br
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Encontro você no próximo episódio! Um abraço!