Um dos maiores clássicos do cinema de ficção é, sem dúvida, a trilogia Matrix. Os filmes da trilogia foram lançados entre 1999 e 2003 e apresentaram para nós uma história que se passa num futuro tão improvável e distópico que faz com que, às vezes, a gente questione se a nossa realidade é tão real como nós imaginamos. Eu sei que parece conversa de gente doida, mas quem viu o filme sabe do que estou falando. Entendedores entenderão!
Na trilogia, Neo é o escolhido, aquele que tem como missão pôr um fim na Matrix e em toda a opressão causada por ela. Só que tem um probleminha: Neo duvida de si mesmo! Ele não acredita que é o escolhido e que tem uma missão tão grandiosa pela frente, pois é apenas um hacker que tenta ganhar a vida de uma forma um tanto questionável e que está longe de ter superpoderes. Mas, há aqueles que acreditam que Neo é o Messias que vai eliminar a Matrix e colocar as coisas em seu devido lugar.
Uma das passagens mais emblemáticas do filme acontece quando Neo vai visitar o Oráculo. Curiosamente, Neo vai visitar o Oráculo justamente para ouvir se ele é ou não o escolhido, pois a descrença que ele tinha em si mesmo era tão grande que acabou até contaminando aqueles que mais acreditavam nele. Ao entrar na sala de espera da casa do Oráculo, Neo encontra uma criança brincando com uma colher.
A brincadeira da criança consistia em entortar e desentortar a colher com o poder da mente. Ao perceber que Neo olhava de forma curiosa para o que estava acontecendo, a criança o convida para fazer uma tentativa. Logicamente, a descrença de Neo o impede de entortar a colher com a sua mente. Vendo tudo isso, a criança diz para Neo:
Confesso que, até hoje eu fico intrigado com esta parte do filme, com o significado da mensagem que esta cena traz. O contexto em que esta cena se desenrola sugere que a descrença de Neo em si mesmo o impede de imaginar e realizar qualquer coisa que o faça ter “superpoderes”. Neo sabota a si mesmo ao não acreditar na sua força e no fato de ser o escolhido.
Mas, eu acho que esta cena tem muito mais a nos ensinar. Uma das metáforas que eu mais gosto é pensar que a colher representa o mundo externo e, quando tentamos entortá-la, estamos tentando mudar a natureza de algo que está fora de nós. Mudar algo somente do lado externo é muito difícil.
Assim, quando a criança diz que somos nós que entortamos ao invés da colher, ela nos diz que é o ser humano que deve se moldar e se adaptar à realidade externa. Quando fazemos isso, estamos promovendo uma mudança de dentro para fora e percebemos que mudamos o formato da colher na mesma proporção que conseguimos mudar nossa forma de pensar e agir sobre as coisas.
Outro ensinamento reside na importância de mudarmos a perspectiva das coisas. Nem toda realidade é objetiva, é por isso que a criança do filme diz que a verdade é que a colher não existe. A realidade pode ser subjetiva e interpretativa, o que faz com que tudo o que acontece ao nosso redor seja visto por meio das nossas lentes, filtros e crenças, que irão apurar todos os fatos e definir o que é “realidade” ou “verdade”. Não há nada de metafísico ou esotérico nesta afirmação e, eu digo isso por um motivo muito simples: as coisas acabam tendo o contorno que desejamos dar a elas.
Quem não assistiu ao filme, fica a dica! Tem muitas mensagens que nos provocam a repensar a forma como vemos o mundo e a maneira como lidamos com o mundo.