O ser humano é dotado de um sexto sentido muito forte. É um verdadeiro dom, que em algumas pessoas se manifesta de forma mais intensa do que em outras. Na realidade, talvez algumas pessoas prestem mais atenção ao seu sexto sentido do que outras. Mas o fato é que as pessoas que têm esse sexto sentido mais apurado têm também facilidade de ter certezas e convicções a respeito de fatos que ocorrerão, bem como uma grande capacidade de fazer conexões entre diversos sinais que o ambiente fornece constantemente para nós todos. Essa habilidade permite que a gente desenvolva a nossa visão antecipatória que, segundo Idalberto Chiavenato é a capacidade de prever as decorrências futuras de ações e decisões atuais.
Na maioria das vezes esse dom joga a nosso favor, quando nos permite avaliar cenários futuros em decorrência dos desdobramentos das nossas ações no presente. Também nos favorece quando conectamos várias ideias, frases, pensamentos e conversas que, num primeiro, momento poderiam estar desconectadas, mas que sob um olhar mais atento acabam representando o pano de fundo de vários cenários favoráveis ou desfavoráveis.
Mas há que se citar também que essa capacidade de antever determinadas situações pode nos representar uma ameaça à medida que essas convicções nos colocam num estado de inércia, numa zona de conforto, justamente por termos a certeza sobre o que vai acontecer e sobre os desdobramentos de determinadas situações. Essa certeza pode representar uma ameaça porque corremos o risco de achar que nada mais é preciso fazer para que as coisas aconteçam, pois as cartas já estão na mesa e tudo vai dar certo.
Não que isso seja errado, mas é que nesse momento nos esquecemos de um detalhe importante: não podemos nos deixar contaminar pela “síndrome do já ganhou!”. Essa certeza de que a vitória está no papo é sedutora e faz com que a gente esqueça de continuar agindo e trabalhando para que o estado futuro – embora seja certo – efetivamente aconteça. Muito embora o jogo pareça ganho, ainda há que ser jogado com seriedade porque nada se ganha na véspera e, como se diz popularmente, o jogo somente acaba quando termina.
Quando optamos pela inércia por conta da certeza de que o jogo está ganho, deixamos também de realizar ações que, na realidade, são fundamentais para que o objetivo desejado ocorra. Em outras palavras, quando vislumbramos e tivemos a certeza do sucesso daquilo que está sendo planejado ou negociado, estamos olhando somente para o estado futuro, para o momento final. Mas acabamos ignorando que esse estado futuro somente ocorrerá graças às ações que já aconteceram e, principalmente, às ações que iremos realizar a partir do momento que nosso sexto sentido falou conosco. É como se olhássemos para o futuro sem conseguir ver as lacunas que preenchem esse espaço entre o estado atual e o estado futuro, sendo que é justamente o que acontece nessas lacunas o que vai determinar a efetivação do sucesso que enxergamos.
É justamente nesse momento que muitas pessoas pecam, pois para que o jogo esteja ganho muito esforço teve que ser feito e muito esforço ainda precisará ser feito. Portanto, continuar trabalhando e agindo em prol dos nossos objetivos é uma forma de mostrar que desejamos fortemente alcançar aquilo que declaramos. Do contrário, nossa inércia pode servir como uma declaração contrária a tudo aquilo que almejamos.
Também é importante lembrar o seguinte: mais importante do que ganhar um jogo, é continuar jogando bem para ganhar os jogos que virão. O jogo de hoje pode até estar ganho. Mas o que dizer dos próximos?