Na Administração muito se fala sobre a nossa capacidade de ter uma visão estratégica que permita que vejamos a organização como um todo, a fim de pavimentar um caminho mais seguro em direção aos objetivos e metas estabelecidos pela empresa.
Essa “visão além do alcance”, não é para todos e, talvez seja até por esse motivo, que muitos gestores se preocupem mais (ou somente) com o momento presente do que com o futuro. Se é difícil ter visão estratégica sobre qualquer organização nos dias atuais, imagine o quanto é difícil ter uma visão estratégica do mundo cerca de 50 anos atrás!
Foi justamente isso que Alvin Toffler se propôs a fazer e os frutos de seus estudos foram colocados em diversas previsões; publicadas em artigos de revista ao longo dos anos 1960 e depois condensadas e publicadas novamente em 1970 no livro “O Choque do Futuro”.
Antes de falar sobre o livro, é importante entender o contexto. Não fazia muito tempo que o mundo havia saído da 2ª Guerra Mundial e os EUA estavam ditando o ritmo do crescimento econômico mundial. Era a época dos Baby Boomers, geração dedicada essencialmente ao consumo como meio de fazer a economia crescer.
Alvin Toffler, que era Sociólogo e professor, observava os impactos desta mudança com um misto de curiosidade e preocupação com os impactos destas mudanças nas gerações futuras. Tanto é que, no livro, ele afirma: “há mudanças demais em um período muito curto de tempo” -, lembrando que isso foi lá no final dos anos 1960.
Então, ele se propôs a escrever sobre os desdobramentos de todas essas mudanças para a sociedade do futuro e, diga-se de passagem, foi muito preciso em suas previsões; basta ver uma das minhas passagens preferidas do seu livro:
“O ritmo acelerado da mudança tecnológica e social irá sobrecarregar as pessoas, deixando-as desligadas e sofrendo de stress e desorientação. Esse é o choque do futuro.”
Interessante essa afirmação, sobretudo se considerarmos que nos dias de hoje, a Organização Mundial do Trabalho afirma que as causas de grande parte dos afastamentos do trabalho estão ligadas ao stress, ansiedade e depressão.
Outro ponto que merece destaque, é que ele inventou o termo “sobrecarga informativa”, que é o que vivemos hoje na era da internet. Há muita informação, mas parece haver menos conhecimento, há muita superficialidade e pouca profundidade.
De acordo com Toffler, “mudanças rápidas aumentam o número de problemas novos e, com isso, aumenta o volume de informações necessárias e desnecessárias.”
Ele também fala sobre a era dos “contatos breves”, prevendo que os contatos humanos serão cada vez mais escassos e curtos. Outra previsão foi de que a tecnologia iria acelerar o surgimento de novas ocupações e também o desaparecimento de outras, conforme afirmou que: “a inovação tecnológica reduz a expectativa de vida de qualquer ocupação.”
Cada vez que me deparo com os textos deste livro, tenho a certeza de que nada do que está acontecendo atualmente é novidade. Já sabíamos – ou melhor, já tínhamos sido avisados – sobre os impactos do avanço tecnológico em nossas vidas. Penso que cabe a nós começar a refletir sobre os desdobramentos de tudo o que está acontecendo agora, afinal de contas, sempre haverá novos choques do futuro.
FICHA CATALOGRÁFICA:
TOFFLER, Alvin. O choque do futuro. 5. Ed. Rio de Janeiro: Record, 1994.