79 – Walter White:O Químico

Até que ponto você iria para defender a si mesmo e a sua família? Você passaria por cima dos seus valores para fazer algo que você considera possível, mas que talvez seja ilegal? Ou você simplesmente mudaria os seus valores e passaria a adotar comportamentos e atitudes diferentes para defender algo que você acredita? Esse foi o dilema enfrentado por Walter White e, quer saber de uma coisa? Ele nos ensina muito sobre ter empatia antes de julgarmos as pessoas.

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    Transcrição do episódio "79 – Walter White:O Químico"

    Olá, pessoal! Meu nome é Fabiano Goldacker. Sou Coach Executivo da Ponte ao Futuro.

    WALTER WHITE – O QUÍMICO

    Até que ponto você iria para defender a si mesmo e a sua família? Você passaria por cima dos seus valores para fazer algo que você considera possível, mas que talvez seja ilegal? Ou você simplesmente ressignificaria os seus valores e passaria a adotar comportamentos e atitudes diferentes para defender algo que você acredita? Ou talvez a pergunta seja: é possível mudar nossos valores ao longo da vida?

    Essa discussão interna fez parte do enredo da série Breaking Bad. Considerada uma das melhores séries que já existiu, Breaking Bad foi um dos programas de televisão mais assistidos e premiados da história. Ganhou dezesseis prêmios do Emmy Awards, dois Globos de Outo e oito Satellite Awards. O seriado está no livro Guiness de recordes como o seriado mais bem avaliado pela crítica em todos os tempos.

    A série conta a história do professor de química Walter White. Considerado um verdadeiro prodígio em sua juventude, o professor se vê diante de uma carreira que considera sonolenta e frustrada. Ele leciona para adolescentes no ensino médio e sente que poderia ter ido mais longe em sua carreira. Agora, na meia idade, ele vê que o tempo passou e que as oportunidades também passaram.

    Mas a maior tristeza do professor Walter White está dentro de casa. Ele sofre muito com o seu filho, que tem paralisia cerebral. Além disso, ele acumula dívidas gigantescas e a sua esposa está grávida de mais um filho. Como se já não bastasse, White acaba sendo diagnosticado com um câncer no pulmão, o que foi a gota da água para que ele tivesse um surto emocional e tomasse uma decisão drástica: dedicar-se a uma vida de fora-da-lei para conseguir dinheiro para pagar seu tratamento e para deixar um certo conforto financeiro para a sua família.

    Essa vida fora-da-lei com a qual o professor White se envolve tem a ver com a produção e venda de meta-anfetamina, que é uma droga sintética, obviamente ilegal. Por ser um professor de química e por ser altamente inteligente, Walter White se vê capaz de produzir e vender a droga com a finalidade de ganhar o dinheiro que precisa para o seu tratamento e para ajudar a família.

    Para lhe ajudar nessa empreitada, ele conta com a ajuda de um ex-aluno, chamado Jesse Pinkman, que foi escolhido não tanto por causa do seu brilhantismo acadêmico, mas sim pela vontade de fazer parte do projeto e, por dizer assim, por uma certa afinidade com o professor, a quem ele chamava de Mr. White, ou senhor White. Pinkman tinha respeito pelo professor porque o senhor White era um dos únicos – se não o único – que conversava e se importava com o jovem.

    Desde o começo, a série deixa claro que um debate moral gigantesco está para começar. Afinal de contas, a decisão do professor White está correta? Ele é o mocinho ou o bandido da história? O que faríamos se estivéssemos em seu lugar? E esse debate moral foi o principal ingrediente para o inquestionável sucesso da série em todas as suas cinco temporadas.

    Ok, mas vamos lembrar que Walter White está aqui hoje para nos ajudar a cumprir a missão do Coachitório Online, que é a de levar informação e conhecimento relevantes para a vida e a carreira das pessoas. Apesar do personagem ser controverso, assim como as suas decisões e ações, há lições que podemos aprender com esse obstinado professor de Química.

    E para começar a falar das lições que esse personagem nos traz, eu quero começar falando um pouquinho de ética. Segundo o que nos ensina o filósofo Mario Sérgio Cortella, ética é um conjunto de princípios e valores que usamos para responder a três perguntas muito importantes: quero? Devo? Posso? Ele nos avisa que há coisas que queremos, mas não devemos ter ou fazer. Há coisas que devemos, mas não podemos ter ou fazer. Há coisas que podemos ter ou fazer, mas não queremos.

    Essas perguntas acompanham o nosso dia-a-dia, no nosso trabalho e na nossa vida pessoal. Quantas vezes nos deparamos com situações em que sabemos o que deve ser feito, mas não podemos fazer? Ou coisas que queremos fazer, mas não devemos? Várias decisões que temos que tomar ao longo da vida fazem com que a gente se sinta pressionado por essas três perguntas: quero? Devo? Posso?

    E vamos falar a verdade: será que é fácil pensar, falar e agir sempre de acordo com o que queremos, devemos e podemos? Cada um fala por si e eu confesso que acho extremamente difícil agir dessa forma sempre.

    Isso quer dizer que corremos o risco de cometer deslizes éticos ao longo da nossa vida. Claro que esses deslizes talvez não sejam tão fortes quanto o que o professor Walter White decide cometer em Breaking Bad. Mas, quem somos nós para julgar? Querer? Bom, talvez ele não quisesse. Dever? Na realidade, a única coisa que ele deveria fazer era encontrar uma forma de bancar financeiramente o seu tratamento e os cuidados com a família. Poder? Sim, ele podia, porque tinha conhecimento técnico para isso. Mas, ao mesmo tempo, ele não podia porque a atividade para a qual se dedicou era ilegal.

    É por isso que que Mario Sérgio Cortella nos ensina que o dilema ético acontece todas as vezes que aquilo que você quer não é aquilo que você deve; quando todas as vezes que aquilo que você deve não é o que você pode e todas as vezes que aquilo que você pode não é o que você quer.

    Eu ainda quero falar um pouco mais sobre valores. Em termos conceituais, valor é uma característica da qual não abrimos mão. Honestidade, transparência, pontualidade, companheirismo, fidelidade, entre outros, são exemplos de valores. Cada pessoa tem o seu conjunto de valores, ou melhor, de características das quais não abre mão. Os valores formam a base da nossa conduta. As coisas que pensamos, falamos e fazemos estão diretamente ligadas ao nosso sistema de valores.

    Muitas pessoas me perguntam se esses valores são eternos, imutáveis e inegociáveis. Sim, eles são perenes e nos acompanham a vida toda – basta lembrar que valores são características das quais não abrimos mão. Mas há exceções. Sempre há exceções. E a exceção aparece quando um motivo muito forte faz com que aquilo que valorizamos e acreditamos fica em segundo plano diante de algo que nos acontece. Foi o que aconteceu com o professor White. As circunstâncias da vida o colocaram em uma situação na qual a única alternativa que enxergou foi a de produzir e vender drogas.

    Não estou defendendo a escolha. Muito pelo contrário. Mas é preciso que a gente entenda a situação sob a perspectiva da pessoa que tem que fazer algo para resolver um problema urgente. É preciso analisar a situação sob a ótica do julgamento, pois para qualquer um de nós é fácil olhar para as decisões e ações que uma pessoa toma e julgá-la por conta disso. Quando estamos sentados, sendo espectadores da vida dos outros, sempre será mais fácil e até tentador julgar e sentenciar tudo o que uma pessoa fala e faz. Difícil é ter empatia, é calçar o sapato do outro para imaginar o que faríamos em seu lugar.

    Mas há muito mais em jogo nessa decisão que Walter White toma logo no início da série. Há uma relação de causa-e-efeito, ou seja, a decisão que ele toma tem consequências. Ele sabe que o que faz está errado, mas a situação extrema que ele e sua família vivem faz com que ele ressignifique seus valores e passe a se dedicar a sua atividade ilegal.

    Walter White passa pela trilha do D-D-A – Descoberta-Decisão-Ação. Eu já comentei sobre essa trilha em outras ocasiões e aproveito para te convidar a ouvir novamente o episódio #55, quando falamos sobre as coisas que carregamos na nossa mochila. Em resumo, descobrir é ter consciência das coisas. Descobrir é “tirar o que te cobre”, pois assim você consegue ter mais clareza sobre a situação e o que precisa ser decidido. É a primeira parte do processo de decisão. A decisão em si é o segundo passo. É a escolha. Só que a decisão, por si só, muitas vezes não leva a lugar nenhum porque precisamos colocar em prática o que decidimos. Precisamos agir, precisamos colocar em prática aquilo que decidimos. Descobrir-decidir-agir: não tem como escapar dessa trilha.

    Essa trilha permeia a nossa vida! Essa trilha forma a essência de um processo de Coaching e Walter White percorreu essa trilha de forma completa. Mas ele sabia que haveria consequências para a trilha que estava percorrendo. E essa é outra grande lição que o professor White desperta durante toda a série: ações têm consequências. Boas ações e más ações tem boas e más consequências. E sabe qual é o nosso grande desafio? Tentar imaginar as consequências de nossas ações antes mesmo de começarmos a percorrer a trilha da descoberta-decisão-ação. Aliás, a boa notícia é que quando percorremos essa trilha de forma consciente e cuidadosa – ainda que de forma rápida – a tendência é que a gente consiga refletir bem a respeito da consequência e da moralidade das ações que estamos prestes a realizar.

    Ainda para citar o filósofo Mario Sérgio Cortella: a felicidade é o que acontece quando aquilo que a gente quer é o que a gente deve e pode fazer.

    Fala, galera do Coachitório Online.

    Apesar da polêmica que envolve toda a trama de Breaking Bad, é fundamental que a gente comece a tocar em determinados assuntos. Volto a dizer que sou completamente contra o que o professor White realizou, mas sou muito a favor de analisar as motivações que levam cada ser humano a fazer o que faz. Sou muito a favor de não ficarmos julgando a vida alheia. No caso do professor White, há a lei, a polícia e todo um sistema que vai se encarregar disso.

    No nosso dia-a-dia os dilemas éticos que a gente vê são menos polêmicos, embora não sejam menos importantes. Então, lembre-se sempre de não julgar, sentenciar ou xingar alguém por conta de algo que decidiu ou fez, pois não sabemos a situação em que a pessoa se encontra e os motivos que a levaram a fazer isso. Podemos discordar! Mas vamos evitar atirar pedras.

    Muito obrigado a você que nos acompanha semanalmente aqui no Coachitório Online. Quero dar as boas-vindas para quem está chegando agora. O nosso podcast semanal sobre pessoas, carreira e liderança está na quarta temporada e eu aproveito para te convidar a curtir todos os nossos episódios e temporadas pela sua plataforma favorita.

    Te faço também um pedido: escolha um episódio do nosso podcast para compartilhar com seus amigos, nas suas redes sociais e lembre-se de apertar o botão para seguir o nosso podcast. Vamos aumentar o número de pessoas que está nos acompanhando nessa jornada.

    E volto a lembrar que você pode participar ativamente dessa temporada. Diga que personagem você quer ver aqui no Coachitório Online. Deixe a sua mensagem e também as suas sugestões e opiniões nas nossas redes sociais. Se preferir, pode escrever para fabiano@ponteaofuturo.com.br

    Encontro você no próximo episódio! Um abraço!