Transcrição do episódio "177 – José Saramago e a Gestão do Tempo"
Olá, pessoal! Meu nome é Fabiano Goldacker. Sou Coach Executivo da Ponte ao Futuro.
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Vamos falar de:
GESTÃO DO TEMPO
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Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo.
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Essa frase contraditória e brilhante é de José Saramago, escritor português que teve a merecida honra de vencer os maiores prêmios que um escritor de língua portuguesa pode receber. Em 1995, Saramago ganhou o prêmio Camões, o mais importante prêmio literário da língua portuguesa e, logo depois, em 1998, ele também ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. Arrisco a dizer que, depois de Luiz de Camões, José Saramago tenha sido o mais importante escritor de língua portuguesa que já existiu.
Bom, eu comentei que a frase de Saramago é contraditória e brilhante. Contraditória porque ela nos lembra que não devemos ter pressa para as coisas, ao mesmo tempo que nos alerta sobre a importância de não perdermos tempo. Por esse mesmo motivo que eu acho essa frase brilhante, até porque se olharmos atentamente, a contradição que eu vejo na frase talvez esteja somente na minha limitação de entender o que o escritor quis dizer. E entender a frase de José Saramago talvez nos ajude a lidar com um dos maiores desafios que a gente enfrenta em nossa vida pessoal e profissional: a gestão do tempo.
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Peter Drucker, célebre escritor e conferencista da área da Administração, avisava que a gestão do tempo seria um dos maiores desafios que nós enfrentaríamos no século 21. Foi lá nos idos dos anos 1990 que Peter Drucker profetizou isso. Um tempo distante, em que computadores e internet ainda estavam engatinhando. Uma época em que a vida era, de fato, menos corrida. Aliás, é justamente a “vida corrida” que me inspira a falar sobre o tempo, pois eu tenho reparado cada vez mais que temos começado as nossas conversas profissionais da seguinte forma:
“- Bom dia! Tudo bem?”
“- Tudo bem! Na correria!”
Parece que hoje em dia, tão natural quanto perguntar se a pessoa está bem é esperar que ela responda que tudo está uma correria. E é igualmente natural nós darmos a mesma resposta quando nos perguntam como estamos. Parece que, à medida que o tempo passa, alguma coisa dentro de nós começa a secar. Somos forçados a viver somente para perseguir metas. Perdemos nossa vitalidade e começamos a trabalhar por pura disciplina. Nossa energia não é reabastecida naturalmente, e não sentimos alegria com o que fazemos.
Além disso, numa sociedade presa a um processo complexo e veloz de mudança, as necessidades das pessoas – que se originam de sua interação com o meio ambiente exterior – também mudam a uma velocidade relativamente alta. Quanto mais rapidamente a sociedade muda, mais temporárias são as necessidades. Estamos nos movimentando rapidamente para uma era de produtos temporários, feitos por métodos temporários, para servir a necessidades temporárias. Por isso que tudo está sempre uma correria.
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Não é uma crítica a quem diz que está tudo uma correria. Muito menos uma crítica para aqueles cuja vida está uma correria mesmo. Mas a gente precisa pensar e falar a respeito e eu fico me perguntando em que ponto da nossa vida nós perdemos a corrida para o relógio. Lembro de ter vivido uma época, na minha vida adulta, em que tínhamos tempo para fazer as coisas. Ou melhor, tínhamos tempo, inclusive, para não fazermos nada. Talvez o trânsito tenha piorado e a gente perde mais tempo indo de um lugar para o outro do que antes. Talvez tenhamos que trabalhar mais para darmos conta das despesas da casa. Talvez tenhamos que estudar mais ou praticar mais atividades físicas para darmos conta do nosso crescimento pessoal e dos cuidados com a saúde.
O problema talvez não esteja em fazermos tudo isso, afinal de contas, a humanidade sempre trabalhou, estudou, fez atividades físicas, entre outras coisas. Talvez o problema seja em termos deixado que botassem na nossa cabeça que temos que fazer tudo isso, todos os dias. O problema está em abrirmos as redes sociais e encontrarmos um anúncio que diz que tem um curso que não podemos perder, um livro que temos que ler, filmes que devemos assistir, lugares que devemos visitar, comidas que não podemos comer (e as que podemos comer também, claro). Enfim, surgiu um senso de urgência em que cada um está tentando vender o seu peixe e, assim, enchem a nossa vida de coisas que “temos que ser, ter ou fazer”. E aí o psicológico não aguenta. O corpo não aguenta. E faltam horas no nosso dia para fazermos tudo que alguém nos diz que temos que fazer.
Surge uma sensação de ansiedade que aumenta cada vez que nos sentimos culpados por não estarmos conseguindo dar conta de tudo que “deveríamos” estar fazendo. Ansiedade! Outra palavra da moda, que, infelizmente, faz parte do nosso vocabulário cotidiano. Evidências não faltam… Cerca de meia hora antes de eu escrever estas linhas que você está ouvindo, eu estava com um cliente e, ao final da reunião, a gerente da empresa pediu para falar comigo rapidamente. Ela é daquelas pessoas com carreira bastante promissora, porque é jovem, extremamente inteligente, dedicada, disciplinada e…. ansiosa. E era justamente sobre ansiedade que ela queria falar. Perguntou para mim: “- Fabiano, como você faz para não ser tão ansioso?” Fiquei intrigado pela pergunta. Logo eu, que me considero altamente ansioso? Perguntei se ela estava fazendo piada, mas ela disse que não. Disse que estava preocupada, porque antes de entrar em férias coletivas, havia prometido para si mesma que faria várias coisas durante os dias em que supostamente deveria estar descansando. Resultado: ela não fez tudo o que havia prometido para si e isso gerou uma sensação de culpa muito grande. Agora está ansiosa, querendo fazer tudo aquilo que não fez durante as férias. Eu a ouvi. E tudo o que eu pude fazer é dizer que, em minha opinião, ela fez o mais correto: usou as férias para descansar. Mas eu sei que esse discurso não convence o ansioso. E digo isso por experiência própria
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Mas tem uma coisa na qual eu tenho melhorado bastante e que devo reconhecer: a gestão do meu tempo. Na realidade, a minha gestão do tempo melhorou na medida em que eu quebrei um paradigma que começa na própria expressão. Um belo dia eu me perguntei se o problema estava na minha gestão do tempo ou na gestão das minhas prioridades. E assim acabei descobrindo que tempo e prioridades são duas coisas distintas, mas que andam de mãos dadas e que uma influencia a outra. Ao longo do tempo, fui percebendo que o problema é que temos dificuldade em definir e nos dedicar às prioridades e que na medida em que as prioridades são claras e colocamos foco e disciplina para trabalhar nelas, bingo! A nossa gestão do tempo melhora muito!
O problema é que pecamos justamente no planejamento, foco e disciplina. E nesse exato momento eu quero voltar para a frase de José Saramago. Primeiro, ele nos diz para que não tenhamos pressa. Em um mundo em que as palavras correria e ansiedade são repetidas várias vezes ao dia, dizer para que alguém não tenha pressa parece até um sacrilégio. Mas eu acredito que Saramago quis nos ensinar que as coisas têm o seu tempo. Você já reparou que a natureza é sábia justamente porque tudo tem seu tempo, seus ciclos. As estações do ano, os ciclos de reprodução e gestação, o tempo de vida de cada organismo. Tudo tem seu tempo. E aqui estamos nós, em uma dedicação quase que diária para fazer com que as coisas sejam feitas cada vez mais rapidamente. As refeições são cada vez mais rápidas, a paciência no trânsito é cada vez menor e a paciência com os outros, então, é quase inexistente. Ignoramos que fazemos parte da natureza e, assim, ignoramos que as coisas têm um ciclo, tem o seu tempo para acontecer. É como diz aquele velho ditado: quem tem pressa, come cru!
Só que ao mesmo tempo que José Saramago nos diz para não termos pressa, também nos diz para não perdermos tempo. Embora eu tenha dito lá no comecinho do episódio que a frase do escritor português é um tanto contraditória, a verdade é que não! Não há contradição alguma. Ao nos dizer para não perdermos tempo, Saramago nos ensina a não perder tempo com aquilo que não é prioritário. Lembra da gestão das prioridades? Pois é, não podemos perder tempo fazendo aquilo que não é prioritário. E quantas vezes nos pegamos fazendo aquela atividade que está longe de ser urgente, e assim deixamos de fazer aquilo que é prioritário, que deve ser feito agora? O nome disso é procrastinação e falamos sobre esse tema lá no episódio #166 do Coachitório Online. É preciso que tenhamos prioridades definidas para que não percamos tempo fazendo aquilo que pode ser feito outra hora e deixando de fazer aquilo que realmente importa para o momento.
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Fala, galera do Coachitório Online.
Não tenhamos pressa, até porque as coisas têm o seu tempo de maturação e não podemos, ou melhor, não temos o direito de apressar aquilo que tem o tempo correto para acontecer. A ansiedade surge quando achamos que somos os senhores do tempo da natureza. Por outro lado, não devemos perder tempo com aquilo que não é importante ou prioritário para o momento. Eu comentei que melhorei muito na gestão do tempo quando comecei a fazer gestão das prioridades e devo dizer que tudo partiu de duas ações muito simples: fazer uma lista das atividades que você tem para fazer no dia ou na semana e usar uma agenda. Essas duas ferramentas vão ajudar muito na gestão das prioridades. Vão ajudar muito a não ter pressa e também a não perder tempo.
Mas eu quero ouvir você! Como é a sua gestão do tempo ou de prioridades? Ficarei feliz em receber o seu comentário.
E aproveito para lembrar que você pode participar ativamente dessa temporada. Diga que frase ou personalidade você quer ver aqui no Coachitório Online. Deixe a sua mensagem e também as suas sugestões e opiniões nas nossas redes sociais. Se preferir, pode escrever para fabiano@ponteaofuturo.com.br
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Encontro você no próximo episódio! Um abraço!