Uma das minhas atividades profissionais é a docência em cursos superiores de Administração. Atualmente, leciono em pós-graduação, mas por muito tempo, lecionei para cursos de graduação na área de Administração. Essa função demandava que, no início de cada semestre, eu participasse de reuniões acadêmicas com os demais professores e coordenadores.
Lembro muito bem que, numa dessas reuniões, um colega havia descoberto que perdera um curso de capacitação porque não havia acompanhado as comunicações internas e não viu a informação que falava a respeito. Chateado com a situação, ele falou para a coordenação:
“Acho que alguém deveria cuidar de nós, pois a essência de uma faculdade está no que acontece em sala de aula. É lá que temos que estar focados! Alguém precisa nos alertar sobre o que acontece fora dela, para não perdermos outras oportunidades como essa que eu perdi! Quem pode cuidar de nós?”
Ele se referia ao papel dele, ao seu core business, que é ser docente. E afirmava que a estrutura administrativa em sua volta deveria ter como objetivo facilitar o seu papel, para que o professor não tivesse que se preocupar com coisas que são importantes, mas que ocorrem extra-classe.
Isso aconteceu há muito tempo, mas sempre me lembro dela. Ao compartilhar essa história com você, a intenção não é a de julgar se ele estava certo ou não, mas sim, de salientar o que eu absorvi desse caso. Trazendo isso para as organizações, tem sido muito comum exigirmos que o líder desempenhe seu papel influenciador e transformador para que o ambiente de trabalho tenha as melhores condições possíveis a fim de que, no final das contas, tenhamos produtividade e excelência no que entregamos.
Só que, em muitos lugares, o líder é uma figura solitária. É alguém que tem excelentes intenções e boa capacidade, mas que recebe pouca ajuda das pessoas ou dos órgãos de staff que há em volta. Em muitos lugares, os problemas diários são tantos, que a expressão “apagar incêndios”, é a que mais identifica a atuação de um líder. Ou seja, seu foco está em tudo, menos no ato de liderar (ouvir as pessoas, dar feedbacks, acompanhá-las, treiná-las, e muitas outras). Afinal de contas, como diz Bill Gates:
“Ao olharmos para o próximo século, os líderes serão aqueles que capacitam os outros.”
Alguém precisa cuidar do líder, porque caso contrário, ele também irá se desestimular, fazendo com que aquele que sempre fez parte da solução acabe se tornando parte do problema. Alguém precisa se encarregar de fazer com o líder o mesmo que ele deve fazer com sua equipe: ouvir, acompanhar e treinar.