É possível que um livro escrito por um brasileiro há mais de trinta anos traga conceitos sobre gestão que nos dias de hoje ainda são considerados ousados e revolucionários pela maioria das pessoas que o leem? Eu diria que a resposta é sim, sobretudo quando falamos do livro “Virando a Própria Mesa”, escrito por Ricardo Semler no início dos anos 1980.

No início da década de 1980, em pleno ABC Paulista e no auge dos movimentos sindicalistas e de suas greves históricas, Semler herda a empresa que havia sido fundada pela sua família. Ele havia estudado nas melhores escolas e teve acesso a uma educação internacional. Mas também – e talvez por causa disso – era visto somente como o “herdeiro”, aquele que não saberia como tocar os negócios da família.

A verdade é que durante seus estudos e suas viagens, Semler teve acesso a muitas teorias inovadoras de gestão. Numa época em que não havia internet, redes sociais e Youtube, ele teve acesso ao pensamento e às boas práticas de gestão feitas em vários lugares do mundo.

Assim, quando assumiu a empresa da família, Semler decidiu que era hora de colocar em prática o que havia aprendido. Desnecessário dizer que encontrou imensas resistências internas, principalmente da Diretoria, que não via sentido algum em promover as mudanças que ele propunha.

Apesar disso, continuou quebrando paradigmas que ainda estão muito enraizados na cultura organizacional brasileira. Um exemplo disso é a sua opinião sobre empresa familiar, pois ele comenta que seu pai via a empresa como extensão da família e ele a via como inserida num contexto social onde a família deveria ser afastada para deixar a empresa respirar.

Semler também fala algumas verdades um tanto quanto óbvias, principalmente no que diz respeito à liderança. Ele lembra que há centenas de séculos de erros e acertos no que diz respeito à liderança e que não seria necessário reinventar a roda para encontrar o modelo ideal. Bastaria acatar a seguinte premissa: a época de utilização do ser humano como um insumo de produção está chegando ao fim.

Ou seja, para ser um bom líder basta ver o colaborador das nossas equipes como um ser humano, que deve ser tratado como tal e que pode verdadeiramente contribuir de forma importante para a empresa. E, consequentemente, a empresa pode contribuir de forma importante para com o seu crescimento.

Esse pensamento se baseia em outro ponto importante de seu livro, pois ele acredita fortemente que uma empresa só tem razão de existir se der um retorno à comunidade, se contribuir positivamente com ela, pois ele entende que a existência de uma empresa somente para enriquecer os acionistas é um objetivo pequeno e incompleto.

O melhor de tudo é que seus pensamentos não ficaram somente no campo da teoria. Ele aplicou essa filosofia de gestão empresarial e transformou a sua empresa num grande case de sucesso, aclamado internacionalmente. Foi chamado para lecionar e palestrar em vários lugares do mundo, para falar sobre a sua filosofia de gestão e a forma como vê as empresas. É esse case de sucesso que é contado no livro e que faz a sua leitura valer muito a pena.

 

FICHA CATALOGRÁFICA:

SEMLER, Ricardo. Virando a própria mesa. São Paulo: Best Seller, 1988.

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1 comentário

  1. Vejo, quem sempre a boa comunicação e que um bom projeto funcionar, pois se ele não for bem apresentado fatalmente não atingirá seu objetivo.

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